Escrito por Carolina Mainardes
Em 2012, 29% dos professores da educação básica tinham pós-graduação no País. O percentual consta no Anuário brasileiro da educação básica 2014, publicado pelo movimento Todos pela Educação e pela Editora Moderna, e foi apurado com base em dados do Censo Escolar e da Diretoria de Estatísticas Educacionais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A maior concentração de profissionais com a titulação está na rede federal de ensino, seguida das redes estadual, municipal e privada (veja gráfico). Por outro lado, a meta 16 do Plano Nacional de Educação (PNE) prevê que o Brasil deve formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da educação básica até o último ano de vigência do plano. É um desafio que, para o professor Flávio Caetano da Silva, vice-coordenador do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), depende de mudança cultural. Para isso, ele acredita que as redes de ensino e os gestores escolares devem entender a formação continuada do professor como um princípio e, consequentemente, um direito, além de incentivarem a qualificação docente, com o intuito de contribuir para a melhoria da qualidade da educação.
Acompanhe a seguir os principais aspectos relacionados ao tema destacados pelo professor Flávio em entrevista à Gestão Educacional.
A responsabilidade do gestor
“O gestor educacional precisa, por princípio, apoiar e incentivar todo professor que deseja seguir em formação”, afirma o professor Flávio Caetano da Silva. Entretanto, ele alerta que é necessário dar ao docente mínimas condições para isso, como dispensa para que ele possa participar de aulas presenciais, redução da carga horária para que ele possa estudar, entre outras ações.
Está na lei
Flávio ressalta que há uma série de questões que estão sendo encaradas por conta da aprovação da Lei Nacional do Piso do Magistério (Lei n. 11.738/2008), que prevê a destinação de um terço da jornada de trabalho do professor a atividades extraclasse. No entanto, ele revela que a maioria dos municípios que tem visitado e consultado faz qualquer negócio para atender à lei, mas não oferece formação. “Às vezes, [a escola] dispensa o professor da sala de aula naquele horário, coloca um estagiário ou um docente substituto, e o professor vai para casa. Mas não há incentivo da rede para a formação”, adverte. Para ele, vincular parte da jornada docente a um programa de formação é o ideal.
As principais dificuldades
As condições de trabalho têm que ser favoráveis para o professor voltar a estudar. “Às vezes, ele está sobrecarregado [em relação à carga horária] e não tem espaço ou apoio”, ressalta Flávio. “E aí, para ele, o estudo vira um acréscimo [de atividade] feito na madrugada. Nenhum programa sério de formação continuada vai bem desse jeito”, atesta. Outra dificuldade apontada pelo professor é a de que, na área da educação, há grande quantidade de pessoas formada há tempos. “Elas estão há muito tempo longe da sala de aula, e muitas demoram para retomar aquele gosto e a disposição para estudar”, conta.
Incentivo
O professor mantém vivo o processo de aprendizado quando ele é desafiado em seu dia a dia pela gestão e pela coordenação pedagógica da escola. “Esses dois sujeitos devem questionar o professor, o tempo todo, em relação a que curso ele fará durante o ano, que condições ele precisa que a escola ofereça para que ele volte a estudar, se ele tem disponibilidade de livros, se tem acesso à biblioteca”, orienta Flávio. E completa: “Se esse processo fica à mercê da iniciativa de cada um, somente os mais interessados vão atrás”.
Alerta I
O professor Flávio alerta que os cursos chamados “enlatados” preocupam. Segundo ele, são cursos on-line, com todo o material pronto e a entrega de um certificado no fim. “Se o professor não for chamado para discutir artigos, livros e não ser desafiado de fato a estudar, vai ficar apenas com um certificado a mais e não estará em processo de formação”, considera. Quando se pensa na redução de custos a qualquer preço, é preocupante. “É quase que ‘apostilar’ um curso para por na mão do professor mais um certificado. É tapar o sol com a peneira”, adverte.
Alerta II
O professor Flávio também critica os cursos de pós-graduação lato sensu. “Não há acompanhamento e avaliação desses cursos. Assim, há muita oferta de cursos, presenciais ou on-line, de baixíssima qualidade. Eles se transformaram em ‘caça-níqueis’, sobretudo em instituições privadas, que muitas vezes têm pouco compromisso com a qualidade do ensino, porque estão mais preocupadas em preencher turmas e lotar salas”, observa. E acrescenta: “Esses cursos com qualidade bastante duvidosa se proliferaram no Brasil. Isso preocupa porque, em médio prazo, vamos ter muitos professores com título de especialização, mas com pouco aprofundamento teórico e prático”.
Formação na escola
A formação continuada na escola não só é possível, mas desejável, na opinião do professor Flávio. “A formação dentro da escola é uma saída muito boa”, ressalta. Entre as vantagens, estão o estímulo aos e a facilidade para os professores para participarem. “Quando se forma o princípio de que a formação precisa continuar, isso gera uma política de continuação”, enfatiza. Além do professor, o diretor e a equipe pedagógica devem estar em processo de formação.
Fonte: http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/especiais/negocio-educacao/920-pos-graduacao-para-docentes
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