domingo, 29 de junho de 2014

O poder da palavra depende da alma de quem escreve

Por: Júlia Faria, do Núcleo de Mídias Digitais
Marina Negri, professora de redação publicitária no 3º ano de Publicidade e Propaganda conta sua relação com o texto publicitário
Desde cedo soube que queria ser publicitária”. Essa foi a sorte de Marina Negri, docente no curso de publicidade e propaganda da Faculdade Cásper Líbero. No início de sua vida acadêmica, aos 17 anos, Marina prestou um concurso na Associação dos Profissionais de Propaganda (APP) que era destinado a alunos do quarto ano. O processo seletivo era conhecido dos alunos mais novos devido à sua importância, pois oferecia uma vaga na agência Leo Burnett.
Eram apenas quatro vagas para estudantes do país inteiro, de qualquer faculdade de comunicação. Mesmo sendo contraindicada, por estar no primeiro semestre da faculdade e ter menos de 21 anos, idade mínima exigida, a professora participou da seleção e, após quatro meses de exames, os cem candidatos iniciais viraram quatro finais, dentre os quais uma era ela. “Comecei minha carreira de uma forma que chamaria de honesta, por que prestei um concurso muito duro, sem ter a menor condição e [a organização] só se deu conta disso na hora de assinar a carteira de trabalho, mas eu já tinha passado e tiveram que se conformar”.

A importância da língua
Quando trabalhou na agência JJ Thompson, Marina foi enviada para participar de um seminário em Londres, onde aprendeu sobre publicidade inglesa, espanhola e de todos os outros países em que a agência tinha sede. “Por isso eu recomendo muito aos alunos que tenham o inglês quase como têm o português”, explica ela, para quem o inglês, hoje, é mais que necessário, é obrigatório.
Depois de certo tempo trabalhando no mercado, a professora sentiu falta de estar em sala de aula, mas desta vez não como aluna. Inicialmente, ficava na agência durante o dia (muitas vezes mais de 8h diárias) e ministrava aulas na USP, no período noturno, como professora substituta. Até que voltou a estudar, especializando-se em metodologia aplicada ao ensino superior na FMU em no mestrado em comunicação e mercado da Cásper Líbero, sentiu que poderia ser útil em outra parte do processo de fazer publicitário, a de formação, e abandonou a agência aos poucos para se dedicar à carreira acadêmica. “Foi uma passagem suave”, conta.
Quando chegou ao doutorado na Unicamp, em 2008, ficou apenas ministrando aulas na USP, onde leciona há 13 anos. Durante o curso, escreveu um capítulo para o livro Hiperpublicidade: Atividades e Tendências e depois foi convidada pela editora Editora Cengage Learning a escrever um livro próprio. Foi assim que surgiu Contribuições da Língua Portuguesa para a Redação Publicitária, obra muito utilizada em faculdades, inclusive na Cásper Líbero, antes mesmo dela lecionar na instituição.
“Creio muito no poder da palavra”, enfatiza Marina. Para ela, falar e escrever todo mundo pode, a diferença está na hora de emitir uma mensagem, colocando “alma” nas palavras ditas. A professora acredita não ser necessário ter grande erudição ou repertório, basta tocar a alma. Marina cita a obra de Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas, como exemplo: “a simplicidade abre um mundo para a interpretação”. Por causa disso, escolheu trabalhar com redação.
Com a sensação de ser filha da casa, por ter cursado mestrado na Cásper, Marina conta que ficou bastante contente ao ser aprovada como docente na faculdade, durante processo seletivo realizado em janeiro deste ano: “retornei ao lugar que me ensinou”, conclui.
Fonte: http://casperlibero.edu.br/o-poder-da-palavra-depende-da-alma-de-quem-escreve/

Nova edição de Cadernos de Linguagem e Sociedade

A seguir reproduzo o sumário com os trabalhos publicados no volume 1 da edição nº 15
da revista Cadernos de Linguagem e Sociedade (L&S) que está vinculada ao Programa de
Pós Graduação em Linguística da UnB.

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Sumário
http://seer.bce.unb.br/index.php/les/issue/view/909
 
Editorial
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EDITORIAL do volume 15(1)2014 de L&S (5)
 Denize Elena Garcia da Silva
 
Artigos de pesquisa
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Palavras e imagens na educação de pessoas jovens e adultas. Onde está o
sujeito? Apontamentos para a pesquisa. (7 - 21)
 Maria Rosa R Martins de Camargo
Uma análise de deslocamento cultural na obra de William Foote Whyte
“Sociedade de Esquina” (22 - 35)
 Damaris Fabiane Storck, Henrique Evaldo Janzen
Luta de Línguas: Panorama Histórico-Cultural da Língua Portuguesa no
Brasil do Século XVI (36 - 49)
 Maurício Silva, Maurício Silva
Narrativas de “choque” e “fascinação” no Colégio Pedro II (50 -
68)
 Tatyana Marques de Macedo Cardoso
Discurso na mídia: construção simbólica de ideologia e poder (69 - 83)
 Vicentina Maria Ramires, Izabela Pereira Fraga
Gerenciamento de vozes no discurso midiático: Caros Amigos x Época (84 -
100)
 Daniele de Oliveira
Variaciones del léxico de especialidad en contextos extrajudiciales de
resolución de conflictos en español (101 - 116)
 Francisco J. Rodríguez-Muñoz, Susana Ridao Rodrigo
Estado de excepción y políticas de emergencia: su impacto sobre la
construcción simbólica del espacio habitacional (117 - 140)
 Mariana Marchese
Do discurso mítico ao discurso publicitário na propriedade da
equivalência (141 - 151)
 Dina Maria Martins Ferreira
 
Resenhas
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BAKHTIN, M. Questões de estilística no ensino da língua. Tradução,
posfácio e notas de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo;
apresentação de Beth Brait; organização e notas da edição russa de
Serguei Botcharov e Liudmila Gogotichvíli. São Paulo: Edit (152 - 155)
 Anderson Cristiano da Silva
Resenha crítica (156-160)
 Anna Clara Viana de Oliveira
FAIRCLOUGH, Norman. Analysing discourse: the critical study of language. 2.
ed. UK: Pearson Education, 2010. (161 - 165)
 Denise Silva Macedo
Fonte: http://mundotexto.wordpress.com/2014/06/23/nova-edicao-de-cadernos-de-linguagem-e-sociedade/

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Internet, redes sociais e linguagem

Por Cristina Caldas

Enviar mensagem de texto usando o celular, comentar o status do amigo
no Facebook, inserir postagens em blogs, tuitar sobre a notícia que acaba
de ser publicada, enviar e-mails, escrever um texto curto para compor o 
meme do momento... Esses são apenas alguns exemplos de usos, cada vez
mais frequentes, da língua em sua forma escrita, nos últimos vinte anos.

A expansão do acesso à internet e o desenvolvimento de inúmeras redes 
sociais possibilitam uma interação histórica entre pessoas, em tempo real, 
juntamente com a disseminação rápida de uma enorme quantidade de 
informações provenientes de diferentes locais do mundo. Só no Brasil, o
total de pessoas com acesso à internet no terceiro trimestre de 2012 foi de
94,2 milhões, segundo dados do Ibope Nielsen Online. Outra pesquisa, 
também do Ibope, divulgada no último mês de janeiro, mostrou que naquele
mês os brasileiros conectados ficaram quase 10h30 navegando em redes sociais.

Mas como tal conectividade e participação dos usuários da internet em redes
como Twitter, Tumblr, Instagram, Pinterest, Reddit, Facebook, YouTube e 
LinkedIn, entre tantas outras, têm impactado a linguagem?

Continue lendo.

Fonte: http://blog.midiaseducacao.com/2014/06/internet-redes-sociais-e-
linguagem.html

Ler e escrever na cibercultura

Entender as práticas educomunicativas como alavancas do potencial de criação do aluno
Recentemente, fui questionada se as práticas que envolviam o conceito da educomunicação (ou mídia e educação) poderiam contribuir para incentivar o gosto pela leitura entre crianças e adolescentes, considerando que muitas pesquisas* realizadas em nível nacional apontam para o baixo índice dessa habilidade importante para a aquisição do conhecimento e para a formação do sujeito crítico.
 
É importante, antes de avaliar se os jovens integrantes de um grupo específico (uma sala de aula, por exemplo), leem ou não, os professores perguntarem-se até que ponto a cibercultura (relacionada aos fenômenos sociais relacionados à internet e às formas de comunicação em rede) está sendo contemplada naquele ambiente e quais são as possibilidades dadas aos alunos para reconhecer a leitura como parte do processo do seu letramento e da sua aprendizagem.
 
Um texto divulgado no portal Todos Pela Educação com o título “Leitura no papel ou na tela: a diferença está em quem lê” traz as considerações da professora da área de linguística da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Rejane Dania, a respeito das diferenças entre a leitura em papel e na tela. Ela afirma que essas diferenças estão relacionadas com as características de quem lê, ou seja, idade, experiência em leitura e grau de contato com a tecnologia. Fatores individuais de cada leitor é que vão apontar se ele terá dificuldades em apreender os significados em qualquer um dos formatos. Então, conclui-se que o processo de leitura é o mesmo, independente do suporte, mas a capacidade de absorção depende do objetivo da leitura.
 
Terá um jovem de 16 anos algum objetivo para ler clássicos da literatura em um livro com páginas amarelas, letras pequenas e palavras rebuscadas? Pode ser que sim, mas pode ser que não. No entanto, se o professor inserir a obra em uma proposta de leitura interativa, com recursos visuais e incentivos de criação em cima do tema, promovendo o trabalho em equipe, a cooperação, a partilha e a divulgação dos resultados, talvez a leitura seja mais apreciada, talvez ela faça mais sentido para esse jovem. 
 
Na década de 1990, Jesús Martín-Barbero definiu a educomunicação como "um processo educativo que permite aos alunos apropriarem-se criativamente dos meios de comunicação, integrar a voz dos estudantes ao Ecossistema comunicativo da escola e, em última instância, melhorar a gestão do ambiente escolar com a participação dos educandos" (a definição pode ser lida aqui)
 
Para isso acontecer, os jovens precisam ter acesso aos meios de informação e às novas tecnologias e o direito à livre expressão, lembrando que um “ecossistema” inclui as pessoas, o ambiente e as suas interrelações. Neste sentido, eu acredito que se os profissionais da educação entenderem as práticas educomunicativas como alavancas para resgatar o potencial de criação do aluno, tornando-o agente e participativo no ambiente da escola e no seu processo de ensino e aprendizagem, a educomunicação pode incentivar a frequência da leitura, pois os alunos produzem (escrevem) mais quando sabem que serão lidos, quando terão o seu conhecimento, a sua criatividade e a sua criação conhecidos, e a leitura é uma consequência da escrita. 
 
Uma atividade dinâmica e atual que incentiva a leitura e a escrita são os Programas Jornal e Educação, que funcionam assim: aos alunos, dentro da sala de aula, é entregue um meio de comunicação impresso, com informações que fazem parte do seu cotidiano; a leitura acontece naturalmente e com interesse, pois as notícias estão relacionadas à cidade, ao bairro ou à escola; com isso, debate-se o tema/assunto/fato exposto e dialoga-se com os participantes da aula, constrói-se um olhar crítico; em seguida, acontece uma pesquisa mais profunda em outros meios de informação (outras fontes), a fim de se obter mais dados a respeito do assunto, o que significa mais leitura; munidos com informações, os alunos partem para a produção textual (no papel ou no computador); a livre expressão deve ser incentivada e a opinião respeitada; um novo diálogo surge com essas reflexões. No caso do Programa Vamos Ler, os textos dos alunos são publicados e lidos pela população local. Trata-se de uma estratégia educomunicativa para se trabalhar leitura e escrita.
 
Os estudantes leem muito hoje, porém são imediatistas. Desejam estar informados, mas que isso aconteça sem delonga; gostam de aprender, desde que a orientação seja rápida. Percebe-se que não querem perder tempo, mas sim ler o máximo que conseguirem para conhecer cada vez mais. Com a mediação certa, essa forma de leitura também é possível. 
 
Conhecer o que o aluno espera de um ecossistema comunicativo ideal dentro da escola e aceitar as mudanças nas esferas social e educacional, ambas sob a influência das novas tecnologias e da web 2.0, e inovar as práticas de leitura com novas plataformas, novos formatos de textos e de livros, pode ser o caminho para melhorar os números das pesquisas. 

Fonte: http://www.neteducacao.com.br/noticias/Coluna/ler-e-escrever-na-cibercultura

terça-feira, 3 de junho de 2014

Júlio Ludemir e Rogério Pereira: O que os jovens estão lendo?

Segundo dados do Censo 2010, último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em abril deste ano, um quarto da população brasileira é hoje formado por jovens, o que equivale a 51,3 milhões de pessoas de 15 a 29 anos. Já o estudo “Juventude que conta”, do Instituto Plural de Educação Aplicada (Ipea), publicado em 2013, revela que 85,2% dos jovens brasileiros colocam a educação como prioridade. Apesar disso, o último Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), de 2012, aponta que, apesar de o país ter avançado nos níveis iniciais de alfabetismo, ainda há muito o que caminhar em direção ao pleno domínio de habilidades de leitura, compreensão e interpretação textual. Entre universitários, por exemplo, 4% são alfabetizados em nível rudimentar e 34%, em nível básico.

Por sua vez, a terceira edição do estudo Retratos da leitura no Brasil, de 2012, realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), revela dados interessantes. De um lado, 28% dos entrevistados apontam a leitura (de jornais, revistas, livros, textos na Internet) como uma das atividades que gostam de fazer em seus momentos de lazer − destes, 58% afirmam ler frequentemente. De outro lado, 64% declaram que a leitura é fonte de conhecimento para a vida, 41% a consideram como fonte de conhecimento e atualização profissional e 35% afirmam que ela é fonte de conhecimento para a escola/faculdade. Também é interessante observar que, entre os gêneros mais lidos, estão os livros didáticos, religiosos, técnicos, infantojuvenis e de autoajuda.

Esse cenário indica que o Brasil está se construindo como um país de leitores, de acordo com o jornalista, editor e escritor catarinense Rogério Pereira, fundador do jornal literário Rascunho e, desde 2011, diretor da Biblioteca Pública do Paraná, onde coordena o Plano Estadual do Livro, Leitura e Literatura, o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas Municipais e o Núcleo de Edições da Secretaria da Cultura. Na última edição de Conversas ao Pé da Página, ocorrida em 13 e 14 de maio, na cidade de São Paulo, Pereira integrou a mesa de discussões sobre a questão “O que os jovens estão lendo?”, ao lado de Júlio Ludemir, jornalista, produtor cultural e escritor, e Bruno Torturra, jornalista e fotógrafo, fundador da Mídia Ninja (Narrativas Independentes Jornalismo e Ação).

Pereira aponta a necessidade de estruturar o leitor brasileiro, já que o cenário da leitura no país é complexo. Segundo o jornalista, passamos de uma sociedade baseada fortemente na cultura oral para o mundo digital, pulando a época do letramento propriamente dito. Nesse cenário, é fundamental analisar com que base de leitura os jovens chegam às redes sociais. Para o especialista, é papel da escola dar oportunidades para que esse público se forme como leitor, pois isso o preparará melhor para que faça uma leitura crítica no mundo digital. São questões que os educadores devem ter em mente: Como formar esses jovens? Que oportunidades efetivas eles têm para ler? Que tipo de livro entregar a eles? Em relação ao que os jovens estão lendo, Pereira aponta que grande parte lê os livros obrigatórios na escola − e isso não garante que serão leitores para a vida toda − e as obras que têm valor social no grupo de que fazem parte (em geral as campeãs de vendas). Segundo o escritor, além dessas leituras, os jovens estão lendo a si mesmos, o que reforça a importância de os educadores, como mediadores, observarem as possibilidades de identificação entre o leitor em formação e os livros a que são apresentados.

Ouça a entrevista de Rogério Pereira para a Plataforma do Letramento, gravada após o evento.


Outro integrante da mesa “O que os jovens estão lendo?” foi o escritor, jornalista e produtor cultural carioca Júlio Ludemir, criador da Festa Literária das Periferias (Flupp). A primeira Flupp aconteceu no Morro dos Prazeres, na cidade do Rio de Janeiro, em 2012. Este ano, a iniciativa difundiu-se por mais três capitais: Curitiba, Salvador e São Paulo. No debate, Ludemir apontou como a grande novidade em nosso cenário de leitura a eclosão das festas literárias por todo o território nacional. Para o escritor, isso indica uma grande transformação na sociedade brasileira − historicamente marcada por profundas desigualdades de acesso a bens materiais e culturais −, em que as classes menos favorecidas são identificadas com a oralidade, e as elites, com a escrita. Esse cenário está mudando, afirma Ludemir: “o novo leitor está na periferia”.

Ouça a conversa de Júlio Ludemir com a Plataforma do Letramento.

Para saber mais sobre o estudo “Juventude que conta”, leia o artigo de Marcelo Neri, presidente do Ipea e ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Clique aqui.

Acesse aqui a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil 2012”.

Assista ao vídeo que apresenta o impacto cultural da Flupp nas periferias e a participação de organizações e autores internacionais no evento ocorrido em 2013.
Fonte: http://www.plataformadoletramento.org.br/acervo-entrevista/584/julio-ludemir-e-rogerio-pereira-o-que-os-jovens-estao-lendo.html