por Delton Aparecido Felipe, Paula Edicléia França Bacaro e Anair Altoé
A leitura e a escrita fazem parte da vida de todo ser humano. Além de ser útil e agradável é também fator de sobrevivência, pois é necessária para o desenvolvimento intelectual das pessoas de modo a interagir com mais eficiência nos aspectos financeiros, culturais e sociais. As informações, na maioria das vezes, chegam ao homem por meio da leitura, sendo esta fundamental para seu desempenho no trabalho, na escola, na rua, já que faz parte do seu dia-a-dia. O conhecimento se dá de diversas maneiras, mas seu principal veículo é a leitura, é por meio dela que o homem analisa, faz comparações, reflete e, conseqüentemente, atinge um grau mais elaborado de conhecimento.
O ato de ler e de escrever é um processo cognitivo, mas a busca por seu desenvolvimento depende, muitas vezes, de como ele acontece. Devemos procurar maneiras, caminhos alternativos, que possibilitem o aprendizado da leitura, respeitando o tempo de cada aluno, fazendo com que ele supere a sua própria limitação. Mais ainda quando nos defrontamos com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais. A importância de apoio a estes alunos fica mais evidente. Isto porque eles necessitam de apoio pedagógico diferenciado, que atenda ao seu nível de compreensão e especialmente seu ritmo e tempo para a realização das atividades.
Alliende (1987, p. 37), neste sentido, ressalta que o aluno “[...] que confia em si mesmo tende a enfrentar as dificuldades com menos medo e consegue recuperar-se de alguns fracassos com certa facilidade”. Portando, segundo o referido autor, é importante que o aluno se sinta seguro para que a aprendizagem ocorra. Deve-se, também, partir do princípio que todo aluno apresenta ritmos de aprendizagem diferentes e que o conhecimento ocorrerá por meio da interação entre o aluno e o objeto, uma vez que cada experiência é única.
Muitas vezes, os fracassos e os prognósticos de “déficit intelectual” são diagnosticados como permanentes, fazendo com que o aluno se recuse a ler e a escrever por medo de errar. O erro pode ser visto pelo professor como uma etapa do processo de construção de aprendizagem. Neste sentido, deixa de ser obstáculo à aprendizagem do aluno. Passa a ser um espaço de discussão e elaboração de novos conceitos. No processo de avaliação, quando o aluno apresenta muitos erros, interioriza o fracasso e recebe o estigma de aluno que não aprende ou, então, é designado como portador de “déficit intelectual”. No entanto, importa considerar que a eles não foi dado o direito de participar de outras oportunidades de aprendizagem, diferentes daquelas corriqueiras e rotineiras de sala de aula.
O “déficit intelectual” pode não ser, de fato, permanente. Talvez seja possível reverter este prognóstico com atividades que interessem ao aluno e não causem a ele constrangimentos, por causa da má grafia ou uma leitura lenta. Para tanto, devemos entender como o processo de leitura e de escrita pode ser encaminhado e como o computador e a Internet, por meio de uma metodologia adequada, direcionada, podem atender às necessidades dos alunos e colaborar com o processo de ensino e de aprendizagem.
A LEITURA, A ESCRITA: APORTES TEÓRICOS.
A leitura, segundo Alliende (1987) requer do aluno uma atitude ativa de participação. O aluno, ao ler, reconstitui as palavras, como se as ouvisse, dá a elas a entonação e o ritmo que deseja. O ato de ler motiva o cérebro a ter pensamentos e criatividade, isto colabora para que o leitor não apenas reproduza a leitura, mas a interprete à sua maneira ou conforme a sua necessidade.
Os alunos com dificuldade de leitura e, conseqüentemente, de escrita fazem uma leitura codificada. Este tipo de leitura prejudica o seu interesse. Entretanto é necessária, pois, para se alcançar um nível compreensível do conteúdo do texto lido, é preciso promover o desenvolvimento das habilidades de leitura. Estas habilidades estão relacionadas à fluência e à compreensão da leitura. Mas é preciso que se respeite o ritmo próprio de cada aluno (Cagliari, 2003).
O processo que busca uma leitura fluente e compreensível pelo aluno não precisa ser de aspecto maçante, como as leituras obrigatórias, mas pode estar vinculado a leituras de interesses pessoais, as quais fazem parte da vida social dos alunos. Ao ler e escrever, o aluno procura sentido, se não houver, sente-se desmotivado para continuar (Cagliari, 2003).
Quando trabalhamos com alunos com necessidades educacionais especiais que apresentem problemas de aprendizagem na leitura e na escrita, é necessário motivá-los com textos de seu interesse e que façam parte do seu cotidiano. Neste processo, o aluno perceberá a importância que a leitura e a escrita representam para o seu desenvolvimento cognitivo ou intelectual. É necessário, também, que o aluno, mesmo com necessidades educacionais especiais, perceba o valor social da leitura e da escrita e a sua aplicabilidade.
Cabe ao professor elaborar atividades de leitura que atendam ao interesse e às necessidades dos alunos. Cagliari (2003, p. 101) diz que “antes de ensinar a escrever é preciso saber o que os alunos esperam da escrita, qual julgam ser sua utilidade e, a partir daí, programar atividades adequadamente”. A escolha do material de leitura é importante porque ler e escrever vai além da aprendizagem das letras e das palavras. É necessário que o aluno encontre nas atividades sentido e aplicabilidade em sua vida cotidiana.
A perspectiva de ver a importância da leitura através das funções que ela pode ter permite ao educador e a todos os que se empenham no desenvolvimento de um ser humano ligar a atividade de ler com as necessidades da pessoa. Deste modo, evita-se que a leitura seja uma simples destreza mecânica que tende a extinguir-se por falta de aplicabilidade e se chegar a focalizá-la como habilidade relacionada com os mais importantes aspectos da vida pessoal e social (ALLIENDE, 1987, p. 23).
A leitura e a escrita são parceiras da aprendizagem, pois quando se lê surgem às produções da linguagem escrita, as quais são elaboradas no pensamento do leitor. Neste sentido, Alliende (1987, p. 23) diz que “a leitura apresenta ao leitor as palavras como seqüência de letras que lhe proporcionam uma imagem gráfica, a qual lhe permite reproduzir corretamente a escrita”.
As informações que os alunos recebem por meio das leituras fazem com que os mesmos elaborem pensamentos e ações. Ao mesmo tempo, permitem aos alunos opinar sobre as mesmas. Lendo, aprendem a buscar diferenças e igualdades. Esta busca faz com que surjam questionamentos, os quais provocam desequilíbrio cognitivo no aluno, o qual favorece o seu desenvolvimento. O desequilíbrio cognitivo faz com que o aluno busque pelo equilíbrio, procurando outras informações que o ajudem na compreensão. Este exercício colabora com a construção do conhecimento (Valente, 1991).
Ao analisar o processo de leitura e de escrita, podemos perceber outro dado significativo para o desenvolvimento dos alunos. Quando o aluno com necessidades educacionais especiais aprende a ler e escrever e tem compreensão de sua leitura e escrita, pode tornar-se mais autônomo, visto que pela leitura e escrita, ele representa ações e pensamentos. Esta autonomia colabora com o seu processo de socialização e comunicação ao alcançar uma melhor compreensão do universo em que vive.
O inverso acontece quando o aluno com necessidades educacionais especiais apenas aprende a ler e escrever sem ter relação com o que lhe interessa, com suas necessidades e seu cotidiano. O aluno, ao não ter compreensão e fazer uma leitura e escrita codificada, sem conexão e sem sentido, conseqüentemente, pode não alcançar a autonomia.
É fundamental, também, que os alunos saibam, por meio do professor, que a escrita é pensamento e a leitura pode ser do seu próprio pensamento ou pensamento de outras pessoas. Isto faz com que os alunos percebam que a leitura tem fundamento, não representa um ato vazio e sem sentido.
Não podemos deixar de destacar a importância que o professor representa neste processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Ele precisa ter sensibilidade e comprometer-se com a aprendizagem dos alunos. É necessário que o professor proponha objetivos e que aceite o desafio em nome da aprendizagem dos alunos (Parga, 2004).
O COMPUTADOR NO PROCESSO DE LEITURA
O trabalho docente para alunos com necessidades educacionais especiais é um desafio tanto nas salas de educação especial como em salas de ensino regular inclusiva. Com a diversidade de comprometimento mental, é necessário que o professor faça um estudo de caso para buscar o caminho, a metodologia de ensinar esses alunos. Este caminho pode ser usado de diversas maneiras, com várias ferramentas educacionais. A informática aplicada à educação, com uma proposta construcionista, pode ser utilizada no processo de ensino e de aprendizagem. Com o uso do computador pode-se elaborar diversas atividades pedagógicas (Papert, 1994).
Neste sentido, o computador pode ser um grande aliado no processo de desenvolvimento da leitura e da escrita. Pois a imagem provoca o aluno a querer saber mais sobre a informação que está visualizando. O computador envolve-o por meio da variação de cores, movimento, imagens, que chamam a atenção do mesmo para novas leituras. Essas atividades de leitura proporcionam novo meio ou maneira do aluno expressar e de se relacionar, pois transmite várias informações, as quais possibilitam ao aluno melhorar sua comunicação. Promove o aluno a desenvolver novas habilidades do uso da máquina, que o levam a novas aprendizagens, as quais proporcionam diferentes formas de pensar e aprender. Pallof & Pratt (2002, p. 90), afirma que “quando os alunos envolve-se com um processo de aprendizagem em que a tecnologia seja utilizada eles aprendem não apenas sobre a matéria do curso, mas também sobre o processo de aprendizagem e sobre si mesmo”.
Valente (1999) destaca que o computador armazena, representa e transmite informações. Estas informações possibilitam ao aluno a construção do conhecimento à medida que recebe as informações que são memorizadas e processadas pelos esquemas mentais. Quando o aluno está diante de um desafio ou problema que precisa ser resolvido, ele busca um novo conhecimento. Caso o aluno não obtenha conhecimento suficiente, busca outras informações que, são unidas ao conhecimento existente, possibilitam ao aluno a execução de sua tarefa.
Outro fator interessante é que por meio do computador os alunos sentem-se mais livres e os erros tornam-se insignificantes. Apagar e fazer novamente torna mais divertido e menos traumático. Deste modo o erro colabora com o desenvolvimento da escrita do aluno. Quando o aluno percebe que errou, entra em conflito e se desequilibra. Ao buscar o equilíbrio novamente, ele reconstrói a palavra. Este processo proporciona ao aluno aprendizado, pois ele pensa, reflete, analisa e realiza sua ação diante da descoberta do erro. O computador, pela variedade de funções, permite ao aluno executar esta tarefa sem perceber sua real dimensão de aprendizagem (Valente, 1999).
Geralmente, nas tarefas realizadas em sala de aula pelos alunos, percebe-se uma recusa em refazê-las, caso estejam erradas (Cagliari, 2003). No computador, dificilmente o aluno se recusa a corrigir a tarefa. E esta correção, geralmente, decorre da necessidade do próprio aluno quando percebe o erro. Em relação às atividades de programação, é importante ressaltar que, quando o aluno executa uma tarefa e percebe que não atingiu seu objetivo, reformula suas idéias, procura pelo erro e executa a tarefa de programação novamente. Quando o aluno com necessidades educacionais especiais atinge seu objetivo, sente-se motivado a efetuar outras tarefas. Neste processo, é fundamental a participação do professor. É ele quem vai planejar e executar ações para que o aluno descubra o próprio erro ( Valente, 1991).
Ao utilizar o computador, o aluno analisa, questiona as várias informações que recebe e este processo contribui na construção do seu conhecimento. Quanto mais o aluno interage com o computador, mais informações ele recebe, as quais colaboram para a construção do seu conhecimento (Valente, 1999). No caso dos alunos com necessidades educacionais especiais, esta interação com a máquina faz os alunos serem mais audaciosos, despidos de insegurança. Estes fatores contribuem com o seu desenvolvimento intelectual de maneira natural. A tentativa, o comando, a construção e a desconstrução do erro e a liberdade do ato de experimentar são ações que contribuem para o processo de ensino e aprendizagem.
As atividades que os alunos realizam no computador podem explorar mais seu intelecto que as atividades repetitivas de alfabetização propostas em sala de aula. Para os alunos, as atividades realizadas no computador são sempre novas, visto que apresentam vários recursos a serem utilizados. Papert (1994, p. 70), diz que “é necessário que os professores desenvolvam a habilidade de beneficiarem da presença dos computadores e de levarem este beneficio para seus alunos”.
Outro fator que, também, contribui neste processo é a ausência da avaliação, pois as atividades pedagógicas podem ser desenvolvidas em um ambiente em que os mesmos não se sentem avaliados pelo professor. Sem a preocupação da avaliação, os alunos se apresentam mais livres em suas atividades e o computador se torna o veículo onde o aluno executa tarefas, elabora pensamentos e ações sem medo de errar.
Esta liberdade pode ser vista quando está relacionada ao uso da internet. O número de informações recebido é numeroso, e sobre os mais variados temas, o que possibilita ao aluno ler, pensar, refletir, procurar, ou seja, classificar o que lhe interessa. Cabe ao professor provocar os alunos a classificar tais informações. Esta ação é essencial no processo de aprendizagem, porque proporciona ao aluno a possibilidade da descoberta.
A classificação é uma função cognitiva que o aluno precisa utilizar quando usa a Internet. Devido ao grande número de informações que recebe, necessita fazer uma classificação das mesmas. Esta classificação informacional proporciona ao aluno autonomia, fundamental para o seu desenvolvimento, sobretudo para os alunos com necessidades educacionais especiais, já que podem apresentar dificuldades em realizar escolhas ou manifestar opiniões. Esta atividade proporciona a este aluno, em especial, mais segurança, a qual, provavelmente, vai ajudá-lo nas tarefas diárias.
Outra questão importante está na cooperação e socialização que o ambiente educacional informatizado oferece. O processo de navegação on-line proporciona aos alunos o despertar de suas potencialidades voltadas para o desenvolvimento coletivo, no qual um aluno ajuda o outro, esta cooperação se torna importante para o desenvolvimento pessoal de cada um. Wadsworth (1997) destaca que a interação social e a colaboração entre os colegas é essencial para o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos.
O ambiente tecnológico informativo, no qual está presente a relação social colaborativa, possibilita aos alunos com necessidades educacionais especiais a descoberta de caminhos alternativos para vencer suas limitações físicas e, ainda, os ajuda a buscar uma vida social normal. Atualmente, em quase todos os encontros sociais de adolescente, podemos perceber o mesmo tópico de assunto, ou seja, a Internet.
Neste sentido, Valente (1991, p. 64) apresenta sua contribuição, ao destacar que
Antes mesmo, de sentir necessidade de desenvolver-se intelectualmente, o individuo deficiente tem grande necessidade de se comunicar com o mundo tanto de imitir quanto de receber informações do mundo exterior. E o computador tem desempenhado um importante papel nesta área.
Além de todas as funções que o computador pode oferecer, há a importância da socialização que o ambiente computacional promove aos alunos. Para Santarosa (2001, p. 6-7), o “[...] computador é um instrumento privilegiado de mediação no processo de ensino-aprendizagem e de apropriação cognitiva [...] socioafetiva, da comunicação, entre outros”. Quanto maior for o acesso à informação, à comunicação, à interação, mais ampla será a socialização.
O ambiente também colabora com a aprendizagem dos alunos. Para os alunos, os laboratórios de informática são lugares de entretenimento e diversão. Por meio de uma atuação pedagógica, podem ser utilizados como ambientes que promovem habilidades de comunicação oral e escrita que se elevam a registros de pensamentos mais elaborados (Papert, 1994).
O computador pode oferecer mais segurança no que se refere à aprendizagem, cooperação, socialização, autonomia e independência. Contudo, necessita da atuação do professor que ao se fundamentarem em uma proposta construcionista de aprendizagem, organiza, por meio do computador, atividades que atendam as necessidades de aprendizagem do aluno.
O computador sozinho não promove aprendizado, cabe ao professor a tarefa de instigar, provocar, questionar o aluno para que ele possa ver, refletir sobre as informações que recebe e elaborar conhecimento. O conjunto de informações, se devidamente trabalhadas, poderá possibilitar ao aluno a construção de seu conhecimento. É importante que a relação entre o professor e o aluno seja interpessoal, em um ambiente de comunicação efetiva e colaborativa (Pallof & Pratt, 2002).
Fonte: http://www.profala.com/arteducesp135.htm
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