Michel Pêcheux - (1938-1983): É considerado uma das figuras mais importantes da Análise do Discurso Francesa.
Ele é o fundador da Análise de Discurso que teoriza como a linguagem está materializada na ideologia e como esta se manifesta na linguagem. Ele concebe o discurso, enquanto efeito de sentidos, como um lugar particular em que esta relação ocorre. Pela análise do funcionamento discursivo, ele objetiva explicitar os mecanismos da determinação histórica dos processos de significação. Michel Pêcheux fez seus estudos na Escola Normal Superior de Paris, obtendo seu certificado para ensinar Filosofia em 1963. Em 1966, ele passou a fazer parte do Departamento de Psicologia no CNRS. Partindo de referências teóricas de G. Canguilhem e L. Althusser, Pêcheux reflete sobre a história da epistemologia e a filosofia do conhecimento empírico, visando transformar a prática das ciências humanas e sociais. Focalizando o sentido, que é o nó em que a Lingüística cruza a Filosofia e as Ciências Sociais, Pêcheux reorganiza este campo de conhecimento. Através do confronto do político com o simbólico, a Análise de Discurso que ele propõe coloca questões para a Lingüística interrogando-a pela historicidade que esta exclui, assim como ela questiona as Ciências Sociais pela transparência da linguagem sobre a qual elas se constroem. Pêcheux compreende o sentido como sendo regrado pelas questões de espaço e tempo das práticas humanas, descentralizando o conceito de subjetividade e limitando a autonomia do objeto da Lingüística. O discurso é definido como efeito de sentidos entre locutores, um objeto sócio-histórico no qual a Lingüística está pressuposta. Pêcheux critica a evidência do sentido e o sujeito intencional como origem do sentido. Ele considera a linguagem como um sistema sujeito à ambigüidade, definindo a discursividade como a inserção dos efeitos materiais da língua na história, incluindo a análise do imaginário na relação dos sujeitos com a linguagem. Propondo um novo suporte teórico para a ideologia, seu método é baseado na análise das formas materiais. A materialidade específica da ideologia é o discurso e a materialidade específica deste é a língua. O discurso é, assim, o observatório da relação língua/ideologia. Em termos de discurso, Pêcheux não faz uma distinção estrita entre estrutura e acontecimento, relacionando a linguagem à sua exterioridade. Estabelece a noção de interdiscurso, que ele define como memória discursiva, um conjunto de já-ditos que sustenta todo dizer. De acordo com este conceito, as pessoas estão filiadas a um saber discursivo que não se aprende mas que produz seus efeitos através da ideologia e do inconsciente. O interdiscurso está articulado ao complexo de formações ideológicas: alguma coisa fala antes, em outro lugar, independentemente. De acordo com Pêcheux, as palavras não têm um sentido ligado à sua literalidade; o sentido é sempre uma palavra por outra, ele existe em relações de metáfora (transferência) que se dão nas formações discursivas, que são seu lugar histórico provisório. A leitura (escuta) proposta por Pêcheux expõe o olhar leitor à opacidade do texto, objetivando a compreensão do que o sujeito diz em relação a outros dizeres. Criticando a análise de conteúdo, o psicologismo e o sociologismo, Pêcheux é um herdeiro não subserviente do Marxismo, da Lingüística e da Psicanálise, em sua Análise de Discurso que explicita as relações entre sujeito, linguagem e história. Com sua posição, Michel Pêcheux cria uma nova teoria com um novo objeto: o discurso. Ele consegue, assim, produzir o que propunha: uma mudança de terreno nos estudos da linguagem que afeta, ao mesmo tempo, o território das ciências humanas e sociais. Pós- saussuriano e pós-estruturalista, ele reintroduz a noção de sujeito e de situação, sem estacionar na análise de conteúdo, e fazendo intervir a noção de acontecimento junto à de estrutura. Elabora, desta forma, uma teoria não subjetiva de sujeito e sustenta a análise na relação do real da língua e no real da história. Sua contribuição para o campo das ciências da linguagem é justamente a que consegue trabalhar a questão do sentido na contradição que opõe o formalismo ao sociologismo.
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