quinta-feira, 2 de junho de 2011
Gêneros discursivos
Embora Bakhtin seja o principal estudioso do tema, outros autores também têm os gêneros discursivos como foco de seu trabalho: Holquist, Silvestre e Blank, Beth Brait, Faraco, Tezza, Castro. Além destes, Charaudeau, Maingueneau, Kerbrat-Orecchioni, Ducrot, Bronckart, Adam, Authier-Revez, utilizam-se das duas vertentes, levando em consideração a descrição da situação e a materialidade do texto em si. Estes autores relacionam marcas lingüísticas como conseqüência e produção e significados e tema importantes no discurso.
Em Bakhtin a noção de discurso ou prática discursiva não aparece definida de modo claro. Há em seus escritos uma profunda ligação entre texto e discurso. Enquanto texto é algo concreto, que se realiza materialmente em um gênero textual, discurso é o que o texto produz, é o resultado de uma manifestação em uma instância discursiva. Para ele, o discurso se realiza nos textos de uma forma funcional e contextual, enquanto manifesta o sentido, a significação, o tema do enunciado. Importante salientar que tema da enunciação para Bakhtin, tem duas abordagens. Em sua primeira abordagem tema é considerado único e ligado a uma determinada situação sócio-histórica concreta. Ele apresenta sentidos diferentes a cada novo enunciado, se utilizando de elementos verbais e não-verbais para se constituir. Neste sentido tema existe por um ato de compreensão responsiva na comunicação discursiva. Em sua segunda abordagem, tema, para constituir o gênero do discurso soma-se a uma construção composicional e a um estilo, cujos parâmetros de produção são dados pelo grau de valoração do locutor e do interlocutor do discurso. Tema é variável, embora tenha uma relativa estabilidade. Como as atividades e as necessidades de comunicação são variadas, de acordo com as finalidades da vida social, os gêneros e os temas igualmente os são. Quando há certa regularidade na estruturação lingüística, onde os gêneros são múltiplos e com características especificas, diz-se que há um tipo de discurso.
Há dois textos de Bakhtin que discorrem sobre gêneros: Marxismo e Filosofia da Linguagem (1929) e Gêneros do Discurso (1953). Desde o início a teoria do discurso já estava presente em seus estudos, embora sem se opor á teoria dos gêneros textuais. Mais tarde gênero passa a ter uma forma de discurso social, de enunciação que se subordina à forma de comunicação. Incluem-se, então, a valoração e a ideologia como fins de um enunciado vivo. Ou seja, cada época, cada grupo social tem um repertório com características próprias, um discurso social que se compõem de um grupo de temas específicos. Há formas de comunicação que se utilizam de formas de enunciação, de um estilo, que visam obter resultados específicos.
Gêneros para Bakhtin incluem dialogismo, heteroglossia, plurilinguismo, hibridismo, o que trás a noção de gêneros de discursos como um objeto discurso ou enunciativo, e não como uma forma ou um tipo. As relações sociais sejam elas institucionais ou interpessoais, é que determinam a enunciação. É o que Bakhtin denomina como esferas comunicativas, divididas em: esferas do cotidiano - aquelas ligadas à família, a comunidade (relacionadas aos gêneros primários da linguagem oral) e as esferas dos sistemas ideológicos construídos (relacionadas aos gêneros secundários), ou seja, da moral social, política, educacional, das ciências, etc. Em cada uma delas as pessoas ocupam um lugar, estabelecem relações dentro de uma hierarquia pré-estipulada, selecionam temas e adotam finalidades ou intenções comunicativas. É um fluxo discursivo que determina os gêneros mais “adequados” a estes lugares e relações, visando regularidades nas práticas sociais de linguagem.
Há de se considerar que há uma evolução da língua. À medida que mudam as estruturas da sociedade, mudam as relações sociais, a comunicação e a interação verbal. Mudam as formas “do ato da fala”, ou seja, mudam as linguagens que são utilizadas nas comunicações sociais. Aspecto esse que se evidencia, por exemplo, como conseqüência das interações virtuais, com a atual expansão do uso da internet por parte dos indivíduos.
Para discutir gêneros dos discursos é imprescindível uma análise dos aspectos sócio-histórico da situação enunciativa, levando em consideração a intenção comunicativa (vontade enunciativa) e a apreciação valorativa sobre os interlocutores e os temas discursivos. A partir dessa analise deve-se buscar “as marcas lingüísticas (forma do texto/enunciado e língua- composição e estilo) que refletem no enunciado/texto, estes aspectos da situação” (Rojo. 2005. p.199). É importante que as marcas lingüísticas sejam exploradas, pois estas deixam traços nos textos; importante que a palavra seja percebida dentro de um contexto e de uma situação específica, como um signo flexível e variável, com múltiplos sentidos, polissêmica. Onde os enunciados estejam em permanente diálogo entre si pela alternância de sujeitos falantes e ente os discursos constituídos na e pela cultura.
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