quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Lucia Santaella - Encontros Fnac & CBLD - parte 02
Congresso Brasileiro da Leitura Digital
Educação, Sociedade e Tecnologia
O CBLD tem o objetivo de preparar a sociedade para o impacto desta revolução tecnológica na educação, sociedade e na tecnologia. Sendo um ponto de reflexão e promoção de novas tendências. O pioneirismo aliado divulgação científica e o compartilhamento da informação, ajudaram a consolidar o Brasil junto as vanguardas do conhecimento.
A leitura em uma tela induz novas atitudes e posturas, que se tornou uma prática cultural, onde o culto a leitura e o saber, incrementado pelas novas tecnologias estão impulsionando a adaptação dos meios de divulgação de conteúdos e informações aos leitores do século XXI. Questões como a velocidade, consumo, individualidade e tecnologia, levam a necessidade de um aperfeiçoamento constante com o intuito de acompanhar a rápida evolução do conhecimento e da tecnologia.
“Quando nos preocupamos com o destino dos livros e da leitura, devemos olhar mais de perto para a sociedade e para as suas tendências”
Zygmunt Bauman
O evento
O evento reunirá profissionais nacionais e internacionais, de renomado saber, com o objetivo de discutir as dimensões, processos, tecnologias e o impacto na sociedade da Leitura Digital. As temáticas serão abordadas mediante painéis, palestras e encontros preparatórios em parceria com a rede FNAC. Contando ainda com a Feira da Tecnologia da Informação e Comunicação, onde as principais empresas deste mercado, demonstrarão as mais recentes inovações.
Na constatação da mutação que as revoluções tecnológicas propõem aos Estados Modernos, impõe-se refletir que a inovação obtida pela Leitura Digital é uma tendência consolidada, e que neste momento de transição, trará indubitavelmente um grande impacto no ambiente socioeconômico mundial.
Questões que fazem parte da agenda de discussões do mercado mundial, farão parte da sociedade brasileira. Educação, Sociedade e Tecnologia devem dialogar, pois além da necessária atualização que o mundo moderno incita, indagações devem ser conhecidas e desenvolvidas, para que a sociedade esteja preparada para respondê-las.
O CBLD propõem um desenvolvimento, onde a Educação, a Sociedade e a Tecnologia, sejam os meios de comunicação para o acesso de novas tecnologias, através dos processos de compra, distribuição, suporte, e para que as expectativas futuras sejam analisadas e exploradas de forma criativa e inovadora.
Programação
Sábado, 29 de outubro de 2011
08:00 às 09:00
Credenciamento e Welcome Coffee
09:00 às 10:00
Cerimônia de Abertura
10:00 às 11:00
Galeno Amorim
A importância das novas mídias para o desenvolvimento de políticas públicas.
11:00 às 12:00
Lucia Santaella
Tecnologias para a leitura digital.
12:00 às 14:00
Almoço
14:00 às 15:00
Gil Giardelli
Que humanidade digital é esta?
15:00 às 16:00
Carlos Pinheiro (Portugal)
Inclusão digital de professores e alunos.
16:00 às 16:30
Coffee Break
16:30 às 18:30
Painel de leitura Digital
Galeno Amorim, Lucia Santaella, Gil Giardelli e Carlos Pinheiro
Domingo, 30 de outubro de 2011
08:00 às 09:00
Credenciamento e Welcome Coffee
09:00 às 10:00
Leonardo Brant
Convergência das mídias na sociedade digital.
10:00 às 11:00
Ana Carolina Fonseca Reis
Economia digital.
11:00 às 12:00
Carlos Nepomucemo
Comunicação integrada a mídias digitais.
12:00 às 14:00
Almoço
14:00 às 15:00
Pablo Arrieta (Colômbia)
A indústria da comunicação e seus modelos digitais,
15:00 às 17:00
Painel de leitura Digital
Leonardo Brant, Ana Carla Fonseca Rei, Carlos Nepomuceno e Pablo Arrieta
17:00 às 17:30
Coffee Break
17:30 às 18:30
Dorly Neto
Cultura e educação no ambiente virtual.
18:30
Cerimônia de Encerramento
Lucia Santaella e Gil Giardelli discutiram Leitura Digital na primeira série dos Encontro Fnac & CBLD (Congresso Brasileiro de Leitura Digital). Os encontros que ocorrem na Fnac São Paulo e na Fnac de Porto Alegre visam a apresentar os eixos temáticos que serão debatidos no Congresso Brasileiro de Leitura Digital, fomentando o evento e criando o diálogo com o público.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
iPad na sala de aula: um relato de sucesso
Por Bruno Schmidt Marques
Há cerca de 2 meses eu comprei um iPad 1, usado, de um amigo. O modelo é o básico, apenas WiFi e 16Gb. Meu objetivo era desenvolver aplicativos pro iOS, e o iPad seria o meu hardware de testes. Porém o iPad me surpreendeu pela versatilidade, e notei que ele poderia substituir o notebook enquanto estivesse fora de casa e até mesmo os meus cadernos na faculdade. Sendo assim, encarei o desafio de utilizar somente ele como ferramenta para entretenimento e estudo fora de casa.
O primeiro desafio foi, claro, aprender a digitar em uma tela. Não que seja difícil, mas eu nunca tive nem mesmo um smartphone touch, então levou uns dois dias pra pegar o jeito. Inicialmente tentei com os dedões, como vejo as pessoas fazendo com celulares, mas percebi que assim demorava demais e cansava as mãos rapidamente. Textos longos, nem pensar.
Então tentei digitar com ele horizontalmente, levemente inclinado com um suporte, como se fosse um teclado físico comum, e a diferença foi gritante. Dessa maneira as mãos não cansam e a escrita é rápida, talvez tão rápida quanto com teclado físico de computador.
Depois de aprender a escrever, procurei um aplicativo pra tomada de notas em aula. Testei SimpleNote, Evernote, 7Note e por fim, Writeroom, dica do BR-Mac. De longe o WriteRoom foi para mim o melhor programa para ser utilizado em sala de aula. Ele se integra ao Dropbox, tem uma barra de teclas extras personalizável e aproveita muito bem o espaço da tela. Essas teclas extras foram fundamentais para aumentar a velocidade de escrita, já que muitas aulas possuíam símbolos comuns que no teclado virtual convencional são de difícil acesso.
Percebi, no entanto, que quanto às anotações existem pelo menos 3 tipos de aula:
* Aulas puramente textuais, onde as questões eram respondidas apenas com texto;
* Aulas com diagramas, nas quais existiam questões que envolviam desenhos no papel,
diagramas e gráficos;
* Aulas de matemática/física, que precisavam de pouco texto, alguns gráficos/diagramas e muitos números e caracteres especiais. Experimente escrever em texto simples uma fórmula com fração, raiz quadrada e exponencial, por exemplo.
As aulas puramente textuais são ótimas para serem acompanhadas apenas com o iPad. Como eu falei antes, é muito fácil escrever texto simples, sendo até mais rápido que escrever à mão. Além disso tive a vantagem de conseguir escrever sem olhar para a tela, e sim para o quadro/slide que o professor está apresentando. O resultado é que você se torna mais ágil que o professor e consegue prestar mais atenção na explicação, não apenas no texto.
As aulas com diagramas são um pouco mais complicadas, mas consegui utilizar apenas o iPad nelas. Demorei um pouco pra encontrar um bom esquema, e acabei optando por utililzar dois apps distintos, o Writeroom para texto e o Bamboo Paper para desenho. Comprei inclusive a Bamboo Stylus pro desenho ficar mais natural. Faço a escrita normal no writeroom, e quando preciso fazer um desenho coloco uma referência no texto (Ex.: Página 23) e faço o desenho na página referenciada do Bamboo. [leia também: Anotações à mão no iPad com o Bamboo Paper e o Penultimate]
Por fim, as aulas que mais tive dificuldades foram aquelas que envolviam cálculos. Escrever equações não é simples, existem símbolos que não encontrei no teclado virtual e o desenvolvimento das questões é complexo demais pra ser colocado em texto puro. Fora isso, uma calculadora física é quase que indispensável em cálculos avançados, pois é terrível ficar alternando entre o Writeroom e a calculadora (e tem que ser feito constantemente). Utilizo o iPad somente para tomar nota da parte teórica dos cálculos (que entra na categoria de anotações com diagramas) e anotar os enunciados das questões. O desenvolvimento delas eu faço no caderno, em papel, junto com uma calculadora científica normal.
Outra coisa na qual o iPad ajudou muito (e que foi uma agradável surpresa) foi na organização pessoal. Sincronizei o calendário e a agenda de contatos dele com a minha conta no Google, e passei a usar esses recursos efetivamente. Em sala de aula, quando conheci colegas novos e formamos grupos, passei o iPad e pedi para que completassem os seus dados (nome, telefone, email). Tudo foi sincronizado com a minha conta sem que eu precisasse anotar as informações num papel, procurá-las depois e enviar um email pra guardá-las. Mais tarde, longe do iPad, acessei tudo que precisava (viva a nuvem!).
O calendário foi outra coisa muito importante. Nunca fui adepto do uso de agendas, acho que são grandes, pesadas e incômodas de serem carregadas para cima e para baixo. Como não carregava elas, acabava não anotando os meus compromissos. Com o iPad, e a sincronização com o Google Calendar, passei a anotar tudo, porque o único empecilho, que era o peso extra e a disponibilidade de dados, não existia mais. Em qualquer lugar, até mesmo esperando um prato no restaurante, abro o iPad e verifico os compromissos da semana. Anotei provas e trabalhos quando o professor anunciava e também via que estava chegando a data com certa antecedência, o que permitiu que me organizasse melhor quanto a horários de estudo e lazer.
Fora isso, tem o que todo mundo está careca de saber: acessar emails rapidamente, conforto ao ler notícias (passei a ler muito mais), jogos para distrair em momentos de tédio (esperando atendimento no dentista, por exemplo) e uso de redes sociais muito bem integrado ao sistema. Quanto a duração da bateria, uma carga completa é o suficiente para um dia inteiro e o carregador é pequeno, fácil de ser transportado.
Uma capa no estilo “smart cover” é quase que obrigatória para preservar o aparelho durante o transporte e para digitar com conforto em sala de aula. Também é necessário investir um pouco em aplicativos pagos, mas vale o custo-benefício devido a qualidade superior dos mesmos. Esqueça aquela ideia de utilizar o iPad em ônibus públicos, você vai ficar com medo de ser roubado, até porque o iPad chama muita atenção. Talvez possa ser usado se você vai e volta com um transporte particular.
Minha conclusão é de que o iPad é excelente para ser usado em algumas aulas e apenas complementar em outras. Mas além de servir como caderno ele ajuda muito na organização do tempo, das tarefas e dos contatos feitos no dia-a-dia, e isso agrega um valor gigantesco ao aprendizado. Além de tudo isso, ele também serve para distração em momentos de espera e consegue substituir o notebook quando queremos ler notícias, ver os emails e usar redes sociais.
"Estou muito feliz com a aquisição e espero que esse texto encoraje mais pessoas a utilizar um tablet em sala de aula."
Fonte: http://br-mac.org/2011/09/ipad-na-sala-de-aula-um-relato-de-sucesso/
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Comunidade Virtual vai abrir novas vagas para curso online
Depois de superar expectativas no final de agosto, com inscrições que se esgotaram em menos de 24 horas, a Comunidade Virtual Escrevendo o Futuro vai abrir novas inscrições na última semana de setembro para mais turmas do curso Sequência didática: aprendendo por meio de resenhas. Realizado totalmente à distância, via internet, e voltado para professores de língua portuguesa do ensino fundamental e médio de escolas públicas, a proposta é que educadores vivenciem, como alunos, uma sequência didática em torno de um gênero diferente dos já trabalhados pela Olimpíada. A ideia é escrever a resenha de um produto cultural, compreendendo quais são os princípios do trabalho com gêneros e com sequências didáticas na sala de aula. O curso também pretende ajudar a elaborar atividades e exercícios que ensinem crianças e jovens a produzir textos na escola. Para saber mais detalhes, clique em “Cursos online”, item que está localizado no alto, à direita, da nossa página.
As novas turmas iniciam as atividades na primeira semana de outubro. O número total de vagas ainda não foi definido, mas a estrutura do curso prevê que cada turma tenha 40 alunos orientados por um mediador. Atualmente, 200 participantes, divididos em 5 turmas, fazem o curso.
Adriana Vieira, da equipe organizadora do curso, explica que a procura tem sido muito grande e por isso recomenda que os interessados fiquem atentos às informações publicadas na Comunidade Virtual. “Quando abrimos as inscrições para as primeiras turmas, no dia 30 de agosto, em cerca de duas horas já tínhamos mais de 60 pessoas inscritas”, afirmou.
Além de estar vinculado a uma escola pública, o interessado deve estar cadastrado na Comunidade Virtual. O cadastramento é simples e exige apenas o número do CPF. Pode ser feito a qualquer hora. Basta entrar em "login", na barra lateral à esquerda da página da Comunidade, e seguir as orientações.
Fonte: http://escrevendo.cenpec.org.br/ecf/index.php?option=com_content&view=article&id=25800:comunidade-virtual-vai-abrir-novas-vagas-para-curso-online&catid=161:2011&Itemid=783
Palestra do professor Carlos Faraco
Um dos principais momentos do seminário da Olimpíada, em Brasília, foi a conferência de abertura ministrada pelo linguista e professor titular da Universidade Federal do Paraná, Carlos Alberto Faraco. Transmitida ao vivo pela Comunidade Virtual no dia 29 de agosto, a conferência Português do Brasil: a construção da norma culta e as práticas de ensino teve quase 400 acessos simultâneos. Clique aqui e assista o video da palestra na integra.
http://www.escrevendo.cenpec.org.br/ecf/index.php?option=com_content&view=article&id=25798:video-com-a-palestra-do-professor-carlos-faraco-ja-esta-disponivel-aqui-na-cv&catid=147:2010&Itemid=758
http://www.escrevendo.cenpec.org.br/ecf/index.php?option=com_content&view=article&id=25798:video-com-a-palestra-do-professor-carlos-faraco-ja-esta-disponivel-aqui-na-cv&catid=147:2010&Itemid=758
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Linguagem e realidade social. Espelhamento ou construção?
O processo de construção de sentido social e a relação com a linguagem.
Por Iran Ferreira Melo
Durante muito tempo, grandes questionamentos foram feitos, nos estudos sobre a linguagem, acerca da relação entre as palavras e o mundo. Desde o período clássico, reflexões filosóficas sobre como nos referimos ao mundo através da linguagem estiveram presentes na agenda teórica de todo pensamento ocidental. Com várias formas de nomear (referenciação, representação, significação, categorização), a relação existente entre um dizer (falar ou escrever) e um não dizer (objeto do pensamento ou da realidade empírica) vem inquietando filósofos e linguistas e servindo como base para a composição de inúmeros paradigmas teóricos há séculos. A primeira discussão sobre o assunto foi empreendida por Aristóteles.
O filósofo grego já previa uma relação do mundo com a linguagem. Para ele, essa relação ocorria através de um processo intralinguístico, por meio de mecanismos criados na predicação verbal – formas de os homens organizarem dentro do próprio sistema verbal – todas as coisas existentes. As palavras, no pensamento aristotélico, não possuíam sentido isoladamente, mas apenas quando relacionadas a um processo de predicação verbal, através do qual atribuímos sentido ao mundo. Conforme o que o filósofo grego preconizava, é devido às predicações que os vocábulos fazem referências ao mundo. Para ele, o processo de categorização daquilo que nos rodeia se realiza, por excelência, na imanência da língua.
Postulando o contrário da concepção aristotélica, muitos estudos recentes sobre o assunto afirmam que aquilo que damos a entender com nossos usos linguísticos não está previsto de uma vez por todas no sistema da língua, e sim nas formas de vida. Segundo esses estudos, efetivamos o processo de construção de sentido na relação que a linguagem possui com a vida social. Eles defendem que não é possível nos referirmos à realidade social se não for por meio da linguagem, pois essa é a base de qualquer processo remissivo do que existe no mundo. Entretanto, o fornecimento de sentido ao que se escreve ou ao que se fala não depende apenas da construção linguística, mas está profundamente imbricado aos fatores de ordem sociocognitiva.
Essas duas formas de identificar a função da linguagem face à construção social foram debatidas através de vários postulados epistemológicos durante os séculos. Por isso, para identificarmos como o exercício de relacionar a prática linguística à prática social foi discutido em várias épocas, convido você a excursionar por alguns desses postulados. Veremos, em nossa excursão, que houve muito mais discordâncias do que consenso na história das teorias sobre o assunto.
A REPRESENTAÇÃO SOCIAL POR MEIO DA LINGUAGEM: UM PANORAMA
Hoje, os estudos linguísticos entendem não ser eficaz tratar da relação língua/realidade social como, estritamente, um processo de representação, e sim como uma atividade de co-construção da realidade. No entanto, até essa concepção se firmar, surgiram diversas propostas teóricas. Podemos apresentar algumas das mais emblemáticas.
Na Grécia Antiga, por exemplo, a sociedade já procurava entender essa relação. Platão, Aristóteles e os estoicos já teorizavam sobre como a linguagem possui significado na relação com o que não é linguístico.
Essa relação foi pensada pelos gregos a partir da diádica entre um elemento que representa e um representado. Essa relação se configurava num espelhamento entre um elemento e outro, fornecendo a ambos a possibilidade de refletirem entre si. O elemento que representa passou a ser chamado de signo daquele que é representado e este se tratava sempre de uma coisa a qual se podia representar.
Os estoicos criaram a tríade de composição do signo, que passou a ser revista, durante muitos séculos, por aqueles que pensavam filosoficamente a relação linguagem/realidade social: o triângulo composto por semaînon (significante ou palavra), semainómenon (significado ou sentido atribuído à palavra) e prâgma (objeto que a palavra representa).
ESPELHAMENTO E CONSTRUÇÃO
O fato é que ao representar o mundo pela linguagem não estamos apenas espelhando a realidade social, como uma imagem do que existe, mas também contribuindo para a formação dessa realidade, dando sentido e existência a ela, pois toda formação de discurso é uma posição do indivíduo sobre o mundo, ou, como afirmou o pensador russo Mikhail Bakhtin, todo signo é carregado de ideologia e traz consigo uma posição axiológica do indivíduo em relação ao que se refere. Para ele, toda palavra é enviesada. Por exemplo, dizer “negro” não é o mesmo que dizer “afro” quando nos referimos a um indivíduo de tez escura. Afinal, o que estaria implícito nessas escolhas lexicais? O uso de um ou outro termo não é aleatório, está atrelado a fatores de ordem social, cultural e cognitiva que permeiam a interlocução em que tal uso foi feito. Desse modo, é possível assegurar que, de acordo com a escolha de um dos termos, o processo de atribuição construirá sentidos diferentes, pois os referentes (os objetos do mundo, elementos extralinguísticos) serão identificados diferentemente com os atributos culturais do que forem denominados – “negro” ou “afro”.
Esse tipo de reflexão somente é possível se considerarmos que a linguagem é um fenômeno que funciona como um processo intersubjetivo, pragmático e ideológico e que se manifesta eminentemente como prática social.
A reflexão acerca da relação entre a linguagem e a realidade social como um vetor que emerge dos usos linguísticos e aponta para o mundo, entendendo a língua como um espelhamento da realidade social, foi o posicionamento teórico que prevaleceu anos a fio nos estudos da Linguística durante o século XX e que nos fez crer na produção da linguagem como uma maneira de representar as nossas ideias e as coisas do mundo e na compreensão dela como uma forma de decodificar a representação mental do produtor (consequentemente o que este via no mundo). A língua servia, portanto, como uma maneira de retratar o que havia fora dela. Tratava-se de uma postura, essencialmente, dualista acerca da linguagem: de um lado estava a língua e do outro o que ela podia representar.
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Nos estudos linguísticos estruturalistas era comum admitir-se a existência de uma Linguística externa e uma Linguística interna, a primeira consistia nos fatos relativos à expansão duma língua fora de seu território e a segunda atribuía à língua valor de um sistema que conhece somente a sua ordem própria. Esta foi a perspectiva que prevaleceu durante a primeira metade do século XX e que compreendia a atividade linguística como um funcionamento imanente, por excelência, a um sistema de códigos, cuja única relação com sua exterioridade era de apontar e refletir, a realidade circundante. Tratava-se de uma concepção de língua como um sistema que representava a realidade, uma espécie de espelhamento do que existe.
A Linguística externa dava conta da reflexão que se fazia sobre o que era exterior à língua e tinha relação com ela, como, por exemplo, os costumes culturais de uma nação que repercutiam no uso linguístico. Contrariamente a isso, a Linguística interna deteve-se a falar do que, de fato, o Estruturalismo acreditava ser a linguagem – um sistema de códigos – ou seja, aquilo que era inerente ao próprio sistema da língua.
Após o advento das perspectivas enunciativas e sociointeracionistas nos estudos linguísticos, a noção de língua como um sistema de representação deu lugar a conceitos que consideravam a atividade linguística não mais como uma forma de retrato da realidade apenas, mas como uma maneira de construir a realidade na interação sociocomunicativa. Para tanto, dispuseram-se campos da Linguística engajados numa agenda que privilegia o processo discursivo da atividade linguística, ou seja, muito mais as condições de funcionamento da linguagem do que o seu sistema estrutural.
Isso permitiu a mudança de foco sobre a língua, de uma abordagem intrínseca que concebia a estrutura linguística como uma forma de refletir/representar o extralinguístico para uma compreensão de que o uso da língua constrói o que é exterior a ela. Ou seja, abandona-se a ideia de que, ao se enunciar algo, aponta-se para esse algo e se assume a concepção de enunciação como um processo que instaura a realidade social.
Uma tendência em perceber a realidade social como constituída através de práticas linguísticas nos permite, hoje, conceber que a noção de língua como representação da realidade, tal qual era usada outrora, não é mais aceita nos estudos linguísticos. Assim, cai por terra o conceito de representação no tratamento dado às atividades linguísticas.
As representações sociais podem ser vistas como estereótipos culturais desenvolvidos na atividade discursiva, ou seja, como uma criação de ideias comuns a uma cultura desenvolvidas por meio da interlocução. Mas é, principalmente, a capacidade humana para a ação discursiva que permite a formação das representações, que significam uma forma de práxis sobre a realidade, e não, apenas, um modo de refleti-la.
Podemos reconhecer, a partir desse ponto de vista, uma concepção puramente pragmática de se enxergar a relação entre a língua e a realidade social, diferentemente da proposta estruturalista que entendia a representação como um espelho. Essa autora propõe uma teoria das representações sociais como uma atuação no mundo, concepção que se aproxima da noção de representação preconizada pelo linguista britânico Norman Fairclough, que entende as representações sociais, os sistemas de conhecimentos e crenças e a formação das identidades como práticas sociais que podem se manifestar como práticas de linguagem. Contudo, por remeter à concepção de representação social como complexo de conceitos que relacionam os objetos do mundo às palavras e que dão corpo a esquemas mentais, o termo representação ainda não é o mais feliz para designar o modo em que é possível, nos estudos contemporâneos da Linguística, compreender como a língua se relaciona com aquilo que lhe é exterior – a realidade social.
Eis que surge um conceito que tenta substituir totalmente a concepção de representação como uma imagem mental previamente instalada e independente da atividade interativa: a noção de categorização discursiva, ou seja, a concepção de que produzimos os objetos do mundo através de mecanismos de referenciação no interior dos nossos discursos, um modo de construção das coisas do mundo por meio da construção de objetos de discurso. Lorenza Mondada e Danièle Dubois foram os principais expoentes dessa perspectiva nos recentes estudos linguísticos.
CATEGORIZAÇÃO
A categorização é um processo dinâmico e, sobretudo, intersubjetivo, que se estabelece no quadro de interação entre locutores, e é suscetível de se transformar num curso dos desenvolvimentos discursivos de acordos e desacordos. A realidade social, desse modo, é criada e interpretada na interação comunicativa e no processo de categorização, o qual podemos entender como um processo de referenciação, sem indicar uma forma de apontar o que existe no mundo, mas de construir.
Os referentes de nosso discurso, isto é, aquilo de que falamos, são construídos em nossas ações sociocognitivas e é exatamente a partir dos primados epistemológicos das teorias sociocognitivistas, que a Linguística dá vazão a esse modo de compreender a relação entre a linguagem e o mundo.
O processo de categorização da realidade, segundo essa perspectiva, não é visto mais como um processo que se situa na relação de espelhamento da realidade na linguagem, mas significa uma prática sociocognitivo-discursiva sobre a realidade, isto é, uma atividade, que se constrói no próprio processo discursivo e na interação cognitiva entre os usuários da língua, ou seja, essa atividade faz referência à realidade ao mesmo tempo em que a constrói. Desse modo, tal perspectiva entende as práticas discursivas como práticas sociais constitutivas da realidade social.
Mondada e Dubois quando adotam a teoria sociocognitivista e interacional, para a qual o mundo não nos é dado, mas o formulamos num fluxo de classificação e memória constantes, tratam de uma concepção segundo a qual os sujeitos constroem, através de práticas discursivas e cognitivas social e culturalmente situadas, versões públicas do mundo. Esse processo de referenciação se enquadra como uma atividade de realização do mundo na linguagem, e não a partir dela.
Enquanto o projeto de representação pressupõe uma estabilidade das entidades no mundo e na língua, é possível, de acordo com a teoria sociocognitivista e interacional, reconsiderar essa proposta teórica de enxergar os problemas das entidades da língua, do mundo e da cognição e passar a focar o processo que as constitui, para, assim, entender que o problema não é mais, então, de se perguntar como a informação é transmitida ou como os estados do mundo são representados de modo adequado, mas de se compreender como as atividades humanas, cognitivas e linguísticas, estruturam e dão um sentido ao mundo.
Essa proposta de referenciação como um processo categorial configura uma perspectiva dialética e dialógica da relação mundo-linguagem e lida com a noção de um sujeito sociocognitivo que constrói o mundo e é, ao mesmo tempo, constituído por ele no desenvolvimento de suas práticas discursivas, entendidas estas, também, como práticas sociocognitivas, por se realizarem no intermédio entre a troca simbólica dos indivíduos em suas interações comunicativas, seus conhecimentos semânticos e pragmáticos compartilhados.
Diante de toda essa abordagem sobre alguns vieses que investigaram a relação entre linguagem e realidade social, ressaltamos que vários deles aqui apresentados foram formas dos cientistas – da língua ou não – exporem suas inquietações sobre a díade incontestável em tela, a qual se constitui ao mesmo tempo em que constitui também o ser humano: a linguagem e a realidade social. Seja sob uma ótica estruturalista, seja sob uma perspectiva funcionalista, antropológica ou sociocognitivista, tal estudo sempre se revelou instigante para a humanidade, portanto, é com a certeza de essa história não terminar aqui, que ratificamos a sua pertinência no que já foi e no que será produzido sobre o assunto.
Iran Ferreira de Melo é professor do Departamento de Letras da UFPE e doutorando em Língua Portuguesa pela USP.
Fonte: http://conhecimentopratico.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/28/artigo209998-1.asp
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Tablets na escola
Os "tablets" ganham espaço dentro das salas de aula. Os computadores de mão chegam às escolas cheios de vantagens: são leves, portáteis e fáceis de manejar. No futuro - há quem diga - os "tablets" irão substituir até livros e apostilas.
De objeto de luxo a material didático. O uso de tablets, computador portátil que tem forma de prancheta e funciona com tela sensível ao toque, como instrumento de aprendizado pode deixar de ser uma realidade distante para as escolas brasileiras depois que a Medida Provisória número 5341/11 foi publicada no Diário Oficial da União. Com os tablets fabricados no Brasil incluídos na Lei do Bem, que reduz os impostos do gadget, redes de ensino já veem o mecanismo como um investimento que cabe no bolso.
A medida lembra 2005, quando a lei foi lançada para baratear o custo de computadores no programa Computador para Todos, do Governo Federal, o que aumentou o número de colégios com áreas de informática. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e pesquisas Educacionais (Inep), o número de escolas de ensino médio com computadores no Brasil em 2003, era de 61. Em 2009, depois da Lei do Bem para computadores em vigor, o número subiu para 25 mil.
Para o presidente da Federação dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (FEEESP), José Augusto de Matto, a inclusão dos tablets no incentivo governamental deve seguir o mesmo caminhos dos computadores e notebooks. "O número de escolas que usam tablets deve aumentar consideravelmente e em passos rápidos depois disso. É isso que as instituições particulares esperam do governo: uma ajuda nos seus investimentos", diz.
Exemplo disso é o Colégio Dante Alighieri, de São Paulo. De acordo com Valdenice Minatel, coordenadora de tecnologia educacional da instituição, a escola já pensa em um projeto de compra de tablets depois do barateamento. "Nós já temos há um tempo essa tecnologia, porém só possuímos cinco aparelhos, que são usados somente no ensino médio e no fundamental . Com esse incentivo, já consideramos investir ainda mais para que todas as séries possam os utilizar", afirma.
O Colégio Israelita, de Porto Alegre (RS), estreou o mecanismo nas salas de aulas em abril deste ano. Podendo investir em cinco tablets, a coordenação pedagógica da escola optou por testar o funcionamento somente nas turmas de educação infantil, que abrange crianças de 3 a 6 anos de idade. O sucesso das atividades com o uso da tecnologia foi tão grande que a instituição já tem planos para aumentar o estoque. "Nós já pensávamos em comprar mais tablets para começar a trabalhar também com o ensino médio e com o fundamental, agora com os impostos reduzidos isso se acelerou", afirma a coordenadora pedagógica da educação infantil, Ana Margarida Chiavaro Machado.
O professor do Laboratório de Novas Tecnologias Educacionais da Unicamp (Lantec), Sérgio Ferreira do Amaral, acredita que o fácil acesso ao tablets vai aumentar o número de colégios com o instrumento, porém alerta para o fato de que a aquisição não deve ser um fato isolado. "Se a capacitação do professor não ocorrer simultaneamente à aquisição dos tablets, vai acontecer o que acontece com os computadores nas escolas. Fica mais tempo parado do que sendo utilizado pelos alunos e professores", afirma.
Gadget não pode substituir o lápis e o papel, dizem especialistas
Ana Margarida, coordenadora pedagógica do Colégio Israelita viu pela primeira vez os alunos da educação infantil não se distraírem durante as lições depois que os tablets viraram rotina nas salas de aulas. "É impressionante como essa tecnologia prende a atenção das crianças, elas nem piscam", brinca.
Segundo a pedagoga, o grande benefício do mecanismo não é o fato de impressionar os estudantes, e sim o de atender aos diferentes tipos de aprendizado. "Tem crianças que são mais visuais, outras que são mais auditivas e outras que são mais motoras. O tablet envolve algumas e o ensino formal outras, então conseguimos atingir todos os tipos de aprendizagem", diz. Por isso, Ana Margarida destaca que apesar de os professores não precisarem mais se ater somente ao giz e ao quadro-negro, a prática com lápis e papel ainda é importante e não pode ser deixada de lado.
Amaral, professor da Unicamp, concorda. "A tecnologia não melhora o processo, facilita. Os tables prendem mais a atenção da criança em função da familiarização do ambiente digital em que ela vive atualmente dentro de casa. Papel e lápis é outro conceito, mas que também deve ser trabalhado".
A diretora dos Projetos Pedagógicos Dinâmicos, Patrícia Fonte, defende que as crianças, acostumadas com games e internet, ficam muito inquietas com o ensino tradicional, e por isso os tablets entram como um instrumento de ensino eficaz e também interativo. Apesar disso, o uso do caderno ainda é essencial. "Não pode se restringir as aulas aos tablets. É imprescindível variar as propostas de atividades, explorando recursos diversos como artes plásticas, música, movimento, contação de histórias, entre outros. Independentemente do recurso ser ou não tecnológico essa variedade é essencial, pois cada pessoa aprende de uma forma", conclui.
Fonte: http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI5172321-EI8266,00-Apos+lei+tablets+podem+ganhar+espaco+nas+escolas+brasileiras.html
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