quinta-feira, 12 de abril de 2012

A indústria do livro está perdendo o trem da evolução digital

 
Enquanto a música, a televisãoe o jornalismo já tentam lidar com um mundo de cultura digital ascendente e completamente integrada ao modo de vida moderno, a indústria do livro parece ter perdido o trem da evolução e insiste em ficar estagnada. Iniciativas como a iTunes Store e os novos modelos de negócio para o jornalismo demonstram o interesse e a necessidade das indústrias em se adaptarem aos novos hábitos e costumes. As livrarias, os editores e todos os outros agentes da cadeia do livro seguem adormecidos, e o que antes era uma oportunidade de negócio já se tornou um imperativo, condição de sobrevivência.
Nos últimos anos, nos Estados Unidos, o número de livrarias independentes (pequenas, desvinculada das grandesredes) caiu de 10.000 para 2.000. Nos últimos três anos (2009, 2010 e 2011) caiu em 16% o número de empresas distribuidoras de livros em todo o mundo. Sem esforço, é evidente que a indústria livreira está passando por sérias dificuldades e se por um lado ainda não sabe quais os caminhos econômicos a serem seguidos, por outro muito pouco tem feito para descobrir.
No livro El Paradigma Digitaly Sostenible del Libro, dos professores e agentes do mercado editorial Manuel Gil e Joaquín Rodríguez, fala-se de três crises que estariam violentando a indústria do livro: econômica, ambiental e cultural.
1) Econômica
Cresce o número de editoras que estão fechando suas portas. Os modelos de negócios mais tradicionais já não têm a mesma eficácia. O surgimento das megastores minou o negócio das pequenas livrarias e as que quiserem sobreviver terão de buscar um reposicionamento no mercado (cauda longa?). Também já começa a crescer a certeza de que a produção em massa de livros pelas editoras não é mais rentável para nenhum dos agentes da cadeia do livro. Os editores enfrentam a recusa das livrarias em adquirir grandes quantidades de livros, principalmente no caso das pequenas livrarias. As grandes livrarias ficam com centenas de livros encalhados e precisam baixar o preço para se livrar do estoque.
Consequentemente, as distribuidoras diminuem o trânsito de livros e também perdem dinheiro. Ou seja, ninguém mais lucra e a indústria segue mergulhando em um abismo. Falarei sobre modelos de negócios possíveis em outro post, mas já adianto, por exemplo, a possibilidade da impressão sob demanda, no qual as editoras só imprimem quando solicitado e as livrarias só compram das editoras quando solicitado. Mais do que livros digitais ou e-books já é emergente a necessidade de uma cadeia do livro digitalizada.
2) Ambiental
Em Marketing 3.0, Kotler fala de como as pessoas passaram a exigir das empresas uma atitude mais pró-ativa em relação ao meio ambiente e a responsabilidade social. A indústria do livro é a quarta em níveis de contaminação ambiental. Produzem-se muitos e muitos livros impressos diariamente e grande parte disso fica encalhada em livrarias ou editoras. A indústria da reciclagem do livro é inexistente, apesar de possível. Produzir um livro impresso exige matéria-prima extraída (extração de madeira é renovável, mas não é prática comum entre as indústria do ramo, muito pouco preocupadas com questões ambientais), exige celulose, tinta e combustíveis fósseis. Produzir livro impresso é caro ao planeta. É também uma falácia falar que a produção de e-readers (Amazon, Fnac, Sony…) é pura, quase benéfica ao meio ambiente. Construir um Kindle exige metais pesado que também são agressivos. Embora, na projeção dos dois autores, os danos sejam significativamente menores.

3) Cultural
 
Talvez seja a mais grave das crises. Hoje, vive-se na filosofia nowista, exigem-se os produtos culturais de forma emergencial e instantânea. A impossibilidade de oferecer seus produtos de forma rápida e fácil é mortal para qualquer empresa. E aqui me permitam lembrar novamente das crises econômicas e ambientais: uma livraria que trabalhe exclusivamente com livros impressos não pode e não deve competir com uma que faça o mesmo com livros digitais. Além de não ser rentável, a produção em grande quantidade de todos os livros de uma livraria é completamente absurda do ponto de vista ambiental.
 
Antes que me acusem de qualquer determinismo, afirmo minha crença em um modelo de coexistência entre suportes de fibra de celulose e digitais: modelos sustentáveis dos pontos de vista ambientais e econômicos. As gerações mais novas possuem uma (1) nova lógica discursiva e (2) não tem no papel a sua mediação natural.
 
Explico-me:
 
(1) a internet e a web 2.0 multiplicaram a quantidade de fontes de informações. Agora, os blogs, wikis e as redes sociais exercem papéis semelhantes aos antes feitos exclusivamente pelos grandes veículos de comunicação. O indivíduo também tem a possibilidade de fazer a sua voz ecoar com maior força. O indivíduo também produz conteúdo, muito deles o fazem e essas produções passam a coexistir com as obras das grandes editoras. Chama-se convergência cultural e foi postulado por Henry Jenkins.
 
(2) As novas gerações nasceram em um mundo no qual a mediação já é feita em grande parte através das telas digitais. Ao contrário das antigas gerações que precisam se adaptar aos novos formatos, as mais novas pularam essa etapa e já nasceram em um ambiente imerso em bytes. Não há outra mediação. O que supostamente é antinatural e exige uma mudança de hábitos para os mais velhos, para os jovens é o normal, cotidiano e completamente natural. Por último, é importante dizer que hoje se demandam novas formas de interação e participação que os livros impressos não podem atender. É o caso dos livros enriquecidos que, já hoje, enchem os olhos das editoras que trabalham com o público infantil.

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