quinta-feira, 28 de março de 2013

Considerações sobre a dúvida




Qual é o ponto de partida para a construção do conhecimento? As certezas ou as dúvidas? 

É um questionamento que dá margem a um mar de argumentos e possibilidades de respostas, especialmente se considerarmos o vasto campo da Filosofia e tantos representantes que já engendraram teorias e pensamentos acerca da verdade, do conhecimento e, porque não dizer, do não conhecimento. E nesse último bloco podemos enquadrar a ignorância formal e os mecanismos que permitem a desconstrução dos saberes historicamente, com o reconhecimento da dúvida como um ato de investigação e, portanto, inerente ao processo educativo.

E aproveitando a citação da Filosofia, é importante resgatar que Sócrates tinha, na dúvida, a base de sua concepção filosófica e seu discípulo Platão defendia que a essência de tudo estaria no mundo das ideias, fértil seara para afirmação, negação e contraproposições infinitas quanto à questão das verdades puras ou absolutas. Outros filósofos que vieram depois também deram sequência à busca pela verdade, reforçando, assim, o valor do questionamento.

No trecho a seguir, extraído do programa “Provocações”, de Antônio Abujamra, ele lê um trecho de Bartolomeu Campos de Queirós sobre a dúvida:


Achei interessante reproduzir aqui textualmente o conteúdo, para podermos aproveitar um pouco mais essa descrição tão valiosa:
  
“É só a duvida que nos une e nos aproxima. É só disso que precisamos. Não acredito que haja nada verdadeiro. Tenho muito medo da verdade. Tive um professor de filosofia, o padre Henrique Vaz, a quem perguntei "o que é a fé?". Ele me respondeu que a fé é a duvida, porque somente ela nos é possível. Quando uma pessoa encontra a verdade, a única coisa que ela adquire é a impossibilidade de ouvir o outro. Ela só fala, não ouve mais. Quem encontra a verdade, só fala!."

Uma das coisas que mais me chamou atenção foi o trecho em que ele concede, à verdade, a condição ensurdecedora de poder que faz com que o indivíduo não mais ouça seus companheiros e se deixe embebedar por essa falsa promessa da certeza. E é esse o malogro absoluto daquele que se apodera das verdades absolutas e com elas pretende governar seus mundos. 

Da Filosofia à vida, como ela se manifesta 

Senti a imensa necessidade de contextualizar um pouco a dúvida à luz da Filosofia, uma vez que na lida cotidiana, nos perdemos tanto na busca pelas verdades absolutas, pelas teorias “sagradas”, pelas “bulas” miraculosas da administração ou outras fórmulas, que nunca dedicamos o tempo necessário para o diagnóstico de nossas próprias falhas, incertezas ou excesso de certezas. E não é o caso de se pensar em culpa. É a vida como ela se manifesta. É um processo gradativo de despertar e se manifestar à vida, começando com pequenas doses de questionamento.

Dito isso, é preciso, também, aproximar a temática do nosso viés principal aqui, que é a educação. Nitidamente que, se falo de dúvida como construto do processo educativo, estou falando abertamente e conscientemente de forma generalizada, dada minha crença pessoal nessa condição. Ao texto cabe então delimitar um pouco mais a cena. A percepção e a compreensão serão facilitadas se considerarmos uma instância menor.

Adotando, pois, a vida que se manifesta no produto social que é uma organização, temos obviamente a ocorrência de diversas situações da busca pela verdade ou pelas certezas como forma de se reduzir conflitos ou planificar um status. A dinâmica dos negócios exige uma cronologia de ações e reações que possibilitem o funcionamento da engrenagem. Nesse ritmo, muitos conseguem aprender o que precisam e vão além, outros se blindam de processos e automatizam a aprendizagem na média exigida e sustentável e, outros tantos, não aprendem, não se desenvolvem e se acomodam.

Longe de querer listar motivos processuais, culturais ou até históricos, o que pretendo aqui é levantar o valor da dúvida na educação em uma empresa e como ela é encarada na concepção dos programas educacionais. Alguns estudos indicam que pessoas questionadoras se desenvolvem muito mais. Mas como elas são vistas  pelas empresas? Como os gestores estão lidando com as certezas? E a questão central que acredito imperar é como as pessoas estão sendo ouvidas nas ações de educação?


O conhecimento organizacional só é construído a partir da percepção da cultura, da história, do aglomerado de relações com o mercado, do comportamento do grupo de indivíduos que compõem a empresa e do constante exercício de aplicação, reaplicação e compartilhamento desses registros. Por mais que para um tudo esteja claro e cristalino, para outro ou vários outros sempre haverá uma forma diferente de perceber. E a dúvida de um pode ser importante para uma nova percepção do grupo ou para a contratualização de uma nova forma de se fazer alguma coisa.

Como bem disse Millôr Fernandes, “entre o fabricado e o omitido, só pode sobreviver o absoluto desconfiado”. Não aquele que desconfia de tudo. Mas aquele que encontra ambientes educacionais que o incentivam a questionar sempre se ele está realizando suas tarefas e projetos do melhor modo e o que pode ser feito para melhorar. 

Mário Sérgio Cortella, filósofo brasileiro e autor do livro “Qual é a tua obra?”,  tem uma opinião muito interessante sobre a dúvida, que ilustra muito bem o que tentei dizer nesse breve texto. Para ele, duvidar não é desacreditar de tudo, mas sim, abrir a possibilidade de fazer melhor para si e para os outros. E ele alerta ainda para que se tenha cuidado com gente que não tem dúvida. “Gente que não tem dúvida não é capaz de inovar, de reinventar, não é capaz de fazer de outro modo”.

Fonte: http://educacaonaempresa.blogspot.com.br/2013/03/consideracoes-sobre-duvida.html

terça-feira, 26 de março de 2013

Alô, alunos transformadores!


Imagina na Copa e Porvir querem contar as histórias dos jovens que hoje – no papel de alunos – estão transformando a educação no Brasil.
crédito Imagina na Copa

Se você saiu detrás da carteira e está propondo novas formas de participação na comunidade, de promover a cidadania, de aprender e ensinar nas escolas e universidades brasileiras, sua história merece ser contada.
As mudanças que você está promovendo podem inspirar mais pessoas a tomarem a iniciativa de transformar a educação no Brasil para melhor. Nosso papel é garantir que sua história vá mais longe e contagie outros alunos a fazerem suas próprias inovações.
Por isso, se você é um aluno transformador ou conhece alguém que seja, clique aqui e conte pra gente. Sua história pode se tornar pauta do Porvir e do Imagina na Copa!
Porvir trabalha no mapeamento e na divulgação de práticas, ferramentas, pesquisas e pessoas que estão inovando em educação no mundo todo, como forma de inspirar políticas, programas e investimentos que possam melhorar a qualidade da educação no Brasil.
Imagina na Copa entende que a educação é um ponto fundamental para promovermos uma virada para o país e acredita no papel do jovem como um agente de transformação.
Caso tenha dúvidas, escreva para a gente: info@porvir.org.
crédito Imagina na CopaAlô, alunos transformadores! / crédito Imagina na Copa

Fonte: http://porvir.org/blog/alo-alunos-transformadores/20130305

segunda-feira, 25 de março de 2013

Educação brasileira: discussões e indicadores



Foi lançada no último dia 19 a nova edição da revista Em Discussão!, que cobre grandes temas nacionais a partir das audiências públicas realizadas pelo Senado. Desta vez a revista aborda o aumento da participação da União na educação, para que o país possa dar um salto de qualidade no setor. O trabalho apresenta discusões sobre esse tema, bem como indicadores da educação no Brasil, como os mostrados no infográfico abaixo. Você pode acessar a revista por este link.


Fonte: http://blog.midiaseducacao.com/2013/03/educacao-brasileira-discussoes-e.html

sexta-feira, 22 de março de 2013

O livro que só queria ser lido



«O Livro que só queria ser lido», uma adaptação do conto homónimo de José Jorge Letria, p'los Valdevinos - Teatro de Marionetas.

Fonte: http://theblogteacher.blogspot.com.br/2013/03/o-livro-que-so-queria-ser-lido.html

Cartilha sobre bullying


O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) coordena o projeto Justiça nas Escolas em parceria com as Coordenadorias de Infância e Juventude dos Tribunais de Justiça de todo o país, associações de magistrados e órgãos ligados à educação. Dentre as ações dessa iniciativa está a produção de uma cartilha sobre o tema do bullying, produzida em 2010 e disponível on-line. A cartilha, que pode ajudar pais e educadores a prevenir o problema do bullying nas suas comunidades e escolas, é bastante informativa. Ela foi elaborada pela Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, que também escreveu o livro “Bullying: Mentes Perigosas nas Escolas” sobre o mesmo tema. 
 
http://blog.midiaseducacao.com/2013/03/recursos-para-professores-cartilha.html

quarta-feira, 20 de março de 2013

Ken Robinson diz que as escolas acabam com a criatividade



Fonte: http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/ken_robinson_says_schools_kill_creativity.html

terça-feira, 19 de março de 2013

Projeto Leitura Alimenta




O vídeo acima explica a proposta de incluir um livro na cesta básica, do projeto Leitura Alimentar, uma iniciativa de empresas de São Paulo. 

Fonte: http://blog.midiaseducacao.com/2013/03/projeto-leitura-alimenta.html

domingo, 17 de março de 2013

A Escola - segundo Paulo Freire


Fonte: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=567815266576352&set=a.306639742693907.79960.306634476027767&type=1&relevant_count=1

ESTIMULANDO A LEITURA!!

O estímulo á leitura é muito importante, desde pequenas, pois nesse momento "o mundo das palavras" das crianças está absorvendo, ampliando e guardando as novas expressões. Este arquivo que foi iniciado desde o nascimento, permite o aumento e a ampliação de seu repertório verbal.




Fonte: http://www.facebook.com/pages/Educa%C3%A7%C3%A3o-como-pr%C3%A1tica-da-liberdade/306634476027767?ref=stream

sexta-feira, 15 de março de 2013

Alfabetização em mídia é tão importante como ler e escrever, diz especialista


Consultor de mídia aconselha pais a ficarem atentos e prevenirem, com a educação, os riscos que as crianças estão expostas no ambiente cibernético.

Capacitar crianças e adolescentes a lidar adequadamente com as ferramentas digitais e incentivar a reflexão sobre as produções das mídias é fundamental para a garantia dos direitos da infância e juventude, é o que avaliam especialistas que participaram do Seminário Internacional Infância e Comunicação - Direitos, Democracia e Desenvolvimento.
O debate terminou na sexta-feira (8) e reuniu, por três dias em Brasília, pesquisadores e representantes de organizações ligadas ao tema. Ao participar de uma das mesas de discussão, o consultor independente de mídia australiano Mike McCluskey, disse que a alfabetização em mídia é tão "importante como ler e escrever".
"É entender como o mundo moderno interage e usar o que já existe de maneira eficaz para consumir, publicar, participar de uma paisagem de mídia digital", enfatizou. O especialista acrescentou, no entanto, que os pais devem ficar atentos aos riscos a que as crianças estão expostas no ambiente cibernético.
Segundo ele, o público infantil precisar ser capacitado lidar com a falta de segurança na internet. "Na Austrália temos uma campanha que alerta as crianças do perigo de se meterem com estranhos. O mesmo se aplica ao mundo cibernético. Quantos pais deixariam seus filhos andando soltos, sozinhos em um shopping ou supermercado? Também não se pode deixar as crianças sozinhas na rede", argumentou.
Já a presidenta do Conselho Consultivo de Rádio e Televisão do Peru, Rosa María Alfaro, que também participou dos debates do seminário, ressaltou que uma pesquisa feita em seu país revelou que apenas 1,8% da oferta de programas de TV é dedicada a essa parcela do público. Mesmo assim, crianças e adolescentes assistem à TV, em média, três horas e meia por dia e 83% deles reclamam da exibição de imagens violentas.
"Verificamos que eles estão abandonados pelos meios e esse é um problema latino-americano. Não há programas de televisão dedicados a eles, sendo que a maioria tem conteúdo violento ou elementos sexuais. A sociedade está deixando a infância marginalizada em assuntos midiáticos", lamentou. "Isso acontece porque os enxergamos somente como vítimas e não como protagonistas da mudança", acrescentou.
Durante o encontro, a diretora do Conselho Nacional de Televisão do Chile, María Dolores Souza, cobrou maior pluralidade e diversidade nas produções midiáticas. Segundo ela, levantamento feito em seu país mostrou que 64% do público infantil dizem que as crianças e os adolescentes retratados na TV têm uma vida diferente da deles.
María Dolores também citou que há muitas críticas principalmente em relação à imagem de mulheres, que são retratadas como se "só quisessem fama, divertir-se de maneira sexy e com uma preocupação excessiva com o aspecto físico" e dos adolescentes, que costumam aparecer como "narcisistas e rebeldes".
"Em geral, o tratamento dado a determinados grupos sociais – como mulheres, indígenas e as próprias crianças – é cheio de estereótipos, o que faz com que eles não se vejam representados na mídia", ressaltou. 
Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-03-09/alfabetizacao-em-midia-e-tao-importante-como-ler-e-escrever-diz-especialista.html

segunda-feira, 11 de março de 2013

Quadrinhos - Guia Prático para a educação



A MultiRio, empresa do município do Rio de Janeiro voltada à educação, desenvolveu uma publicação -- Quadrinhos - Guia Prático -- para professores e alunos que desejem trabalhar com essa linguagem. O manual aborda aspectos como o texto e o timing das histórias. Ele também foi adaptado em pequenos vídeos. O primeiro da série, você pode ver abaixo.

sexta-feira, 8 de março de 2013

A leitura e a produção textual na Cibercultura: Reflexões acerca da possível contribuição do blog no ensino e aprendizagem da língua materna

Por Gislaine Gracia Magnabosco

Introdução

Com o advento da Internet e de seus gêneros digitais, observou‐se a construção de uma nova forma de comunicação: a comunicação digital e/ou virtual. Essa nova modalidade de interação acabou por modificar não só a forma como passamos a ler (mais superficialmente (ALMEIDA, 2008) e, assim, com maior probabilidade de incompreensão (SILVA, 2008) e dispersão (MARCUSCHI, 2005)); mas também a maneira pela qual interagimos: utilizamos muito mais a escrita para nos comunicarmos do que antigamente e, dependendo do gênero utilizado, essa escrita se afasta muito da norma padrão. Além disso, agora, qualquer um, conectado à Internet, pode ter acesso a inúmeras informações e, também, divulgar seus próprios textos.
Essas transformações, somadas ao grande uso das tecnologias no nosso dia a dia, evidenciam a grande necessidade da participação da escola e, principalmente, do professor nesse novo horizonte social, técnico e cultural já em curso.
O crescente aumento na utilização das novas ferramentas tecnológicas (computador, Internet, etc.) na vida social tem exigido dos cidadãos a aprendizagem de comportamentos e raciocínios específicos. (...) [os
indivíduos, agora, necessitam dominar] um conjunto de informações e habilidades mentais que devem ser trabalhados com urgência pelas instituições de ensino, a fim de capacitar o mais rápido possível os alunos a viverem como verdadeiros cidadãos neste novo milênio cada vez mais cercado por máquinas eletrônicas e digitais. (XAVIER, 2010 online, p.01).
Nesse sentido, Reis (2009, p.100) lembra que “a escola, como instituição de difusão de saberes e uma das responsáveis para a preparação do homem para a vida em sociedade, não pode caminhar à margem da evolução tecnológica, nem ignorar as transformações ocorridas na sociedade”; isto porque, na atual
sociedade do conhecimento, é imprescindível que nossos alunos (futuros cidadãos) tenham a competência crítica necessária para compreenderem o panorama comunicacional e informacional contemporâneo. Assim, é preciso capacitar nossos alunos a olhar e utilizar mais critica e seletivamente o universo digital, ou seja, é preciso letrar digitalmente (XAVIER, 2010 online, p.01) essa nova geração de aprendizes já que “os suportes digitais, as redes, os hipertextos são, a partir de agora, as tecnologias intelectuais que a
humanidade passará a utilizar para aprender, gerar informação, ler, interpretar a realidade e transformá‐la” (RAMAL, 2002, p.14).

O letramento digital

Pelo exposto observou‐se que o novo espaço de leitura e escrita que nasce com a Internet e seus gêneros digitais promove não só “novas formas de acesso à informação, [mas também] novos processos cognitivos, novas formas de conhecimento, novas maneiras de ler e escrever, enfim, um novo espaço de letramento” (AMARAL; AMARAL, 2008, p.18). Para Soares (2002) o termo letramento pode ser definido como “estado ou condição de indivíduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que desempenham, efetivamente, as práticas de leitura e de escrita, e participam de forma competente dos eventos de letramento” (idem, p.144). Desta forma, um indivíduo plenamente letrado seria aquele que conseguisse “enxergar além dos limites do código, [fazendo] relações com informações fora do texto falado ou escrito, [vinculando‐as] à sua realidade histórica, social e política” (XAVIER, 2010 online, p.02). Nesse sentido, para Lima e Lima‐Neto (2009, p. 48), todas as questões que envolvem o letramento abrangem, necessariamente, questões culturais e contextuais específicas, e, assim, efeitos sociais, cognitivos e discursivos distintos.
É por isso que para Barton (apud XAVIER, 2010 online, p.02) o letramento, antes de constituir um conjunto de habilidades intelectuais, é uma prática cultural, sócio e historicamente estabelecida. Destarte, ao transpormos essas reflexões para a atual Cibercultura (LEVY, 1999), na qual o homem é chamado a ler e escrever utilizando‐se das mais diversas tecnologias existentes e na qual as práticas de leitura e escrita passam a incluir representações gráficas, visuais e sonoras; observamos que novas exigências são
solicitadas aos sujeitos: agora, faz‐se necessário que estes sejam capazes de construir significado a partir de diferentes fontes (textos, gráficos, imagens, sons); conseguindo avaliar e analisar criticamente uma informação ‐ incluindo as questões da variedade social e cultural, bem como de autoria, credibilidade e utilidade; tendo, ainda, a habilidade de trabalhar em grupo, solucionando, rapidamente, os problemas encontrados e compartilhando tal resolução; sendo capazes de aprender a aprender nessa sociedade de constantes mudanças e descobertas tecnológicas (TAVARES, 2009). Observa‐se, de tal modo, que um novo letramento é exigido: o letramento digital e, neste sentido, uma maior participação da escola para a promoção desse letramento. Assim, a escola passa a possuir o grande desafio de realizar uma
formação humana mais compatível com a cena pós‐moderna: a preparação de uma geração autônoma na construção de seu próprio conhecimento, capaz de, não só personalizar suas estratégias de aprendizagem, como, também, analisar e produzir diversos textos “com um senso forte de ceticismo instruído” (SNYDER, 2009, p.44).
As tecnologias digitais no ensino: a constituição de uma “nova” forma de ensinar e aprender. Viu‐se que a promoção do letramento digital está, em grande parte, relacionada a uma maior participação da escola e, consequentemente, a uma nova postura dos professores. Para Lévy (1999) o educador, na era da cibercultura, precisa estimular a troca de conhecimentos entre os alunos, desenvolvendo estratégias metodológicas que os levem a construir um aprendizado contínuo, de forma autônoma e integrada,
habilitando‐os para a utilização crítica das tecnologias.

Neste sentido, Xavier (2010, online) comenta que um ensino que contempla o uso das tecnologias de comunicação e informação pode promover uma nova forma de aprender, “mais dinâmica, participativa, descentralizada e pautada na independência, na autonomia, nas necessidades e nos interesses imediatos de cada um dos aprendizes que são usuários frequentes das tecnologias de comunicação digital” (idem, p.03). Desta forma, para o autor, o uso (ou o não uso) das tecnologias no ensino conseguiria promover duas formas de aprender: uma “velha” que se centraria no professor, na absorção passiva, no trabalho individual, em um ensino estático, no qual o professor ‘sabe‐tudo’ e o aprendizado é predeterminado; e outra “nova”, na qual as tecnologias seriam utilizadas visando um ensino mais dinâmico, centrado nos alunos, que, muito mais motivados, participariam ativamente na construção do seu conhecimento, sendo o professor um articulador, auxiliando os alunos a aprenderem a aprender e a trabalharem coletivamente. Observa‐se que a “nova” forma de aprender possibilita uma modificação não só no papel do aluno (mais autônomo, responsável e participativo em sua educação), como também no papel do professor (orientador e facilitador do processo de ensino e aprendizagem), ocorrendo uma valorização tanto do letramento tradicional quanto do letramento digital, uma vez que tais tecnologias seriam associadas ao método tradicional servindo de ferramenta de ensino e/ou apoio metodológico e pedagógico para a promoção de um ensino e aprendizagem mais contextualizados e adequados às mudanças do mundo e, assim, às competências necessárias para a Cibercultura. Desta forma, podemos dizer que, ao munirmos nossa prática pedagógica com
as tecnologias digitais, estaremos não só adequando o ensino às novas exigências da sociedade, como também nos voltando para a promoção de um ensino que valoriza e favorece a participação ativa dos alunos (sujeitos de sua aprendizagem, em conformidade, então, com os pressupostos teóricos do sócio‐interacionismo), e, igualmente, para a realização de uma aprendizagem significativa (tal qual postulado por Ausubel (apud MARTIN;SOLE, 2004)).

O computador e a Internet já fazem parte do capital cultural (BOURDIEU, 2001) da maioria de nossos alunos, daí acreditarmos que esse professor está a partir do contexto cultural desse aluno, criando possibilidades para sua própria produção ou a sua construção do conhecimento, além de permitir ao que ainda não tem acesso à cultura digital, a possibilidade de apropriar‐se desse novo saber. (REIS, 2009, p.104).
Logo, o uso das tecnologias de informação e comunicação no ensino, além de enriquecer metodologicamente nossas aulas, pode resgatar e valorizar conhecimentos e habilidades que os alunos já possuem servindo, então, de ponte para a aquisição de novos conteúdos (por meio de um ensino e uma aprendizagem mais contextualizados e, desta forma, mais significativos), possibilitando, ainda,
um trabalho pedagógico voltado para a reflexão acerca de tais tecnologias e de suas práticas discursivas.
O ensino mediado pelas novas tecnologias: a contribuição do hipergênero constelar blog.
Com o advento da Internet, muitas ferramentas de comunicação surgiram. Neste trabalho nos focaremos nos gêneros digitais, mais particularmente, no blog. Assim, antes de comentar acerca da possível contribuição do blog para o ensino e aprendizagem da língua materna e, igualmente, para a consolidação do letramento digital, conceituaremos o blog.
Em um trabalho anterior (MAGNABOSCO, 2010), buscamos mostrar que a heterogeneidade conceitual do blog (ora visto como diário online ora como suporte textual) não consegue contemplar as práticas da blogosfera. Assim, após uma longa explanação, optamos por conceituar o blog como um hipergênero.
Ao conceituarmos o blog como um hipergênero, o entendemos como um gênero virtual ou digital que, por alocar‐se em um software hipermidiático, se configura como um gênero híbrido, formado pela junção
(sobreposição) de outros gêneros (materializados ora explicita ora implicitamente por meio de links) que convergiriam, coerentemente, para sua constituição formal, funcional e interacional. Neste sentido, entendemos que o blog seja formado a partir: 1) do post inicial (que por sua vez traria uma diversidade de gêneros: depoimentos, desabafos, contos, comentários, reportagem, entre outros); 2) dos links dos comentários (que, também, podem trazer uma diversidade de gêneros: debate, discussão, conversa, opinião); 3) dos links que levam a outros sítios (como ao perfil do (a) mantenedor (a) do blog; a links patrocinados, ao blogroll, aos posts anteriores, links para contato, links de imagens (animações, vídeos), entre outros); que, se conectariam, para formar um único gênero. (MAGNABOSCO, 2010, p.07)
Além disso, dada a heterogeneidade de blogs existentes que, mesmo divergindo em relação às temáticas e interesses, mantêm traços estáveis que permitem irmaná‐los (como, por exemplo, a estrutura composicional, seu contexto de uso, a escrita mais subjetiva e menos monitorada, o compartilhar de pontos de vistas, a interação por meio de links, entre outros), consideramos que o blog seja um hipergênero organizado em constelação. Araújo (2010) utiliza esse termo para analisar os chats da web. Para ele, um
gênero organizado em constelação, seria um gênero maior (‘gênero mãe’) a partir do qual outros ‘gravitariam’. Assim, embora divergissem em suas respectivas funções sociais, esses gêneros seriam cognatos, uma vez que trariam marcas do ‘gênero mãe’, o que os tornariam membros de uma mesma constelação genérica, entendendo por constelação um conjunto de gêneros que são irmanados pela relação genérica que existe entre eles, ou seja, todos pertencem à mesma família e, por isso, são variedades de um único gênero que, por ser complexo, atende a propósitos comunicativos distintos. (...) O fato de serem membros de uma constelação, no entanto, não tornam homogêneos esses gêneros. Cada um possui seu ‘brilho’ próprio e atende a uma função social distinta. (ARAUJO, 2010, p.04)
Observa‐se, assim, que, por ser um hipergênero constelar, o blog, no que concerne ao ensino e a aprendizagem da língua materna, permite não só um contato real com as práticas discursivas (é um dos locais onde a língua efetivamente é empregada), como também possibilita, por meio da comparação
textual dos inúmeros blogs existentes, a realização de um trabalho que priorize a conscientização acerca dos elementos que interferem na produção de um texto: as formas de circulação, os contextos de produção (vinculados ou não com instâncias discursivas ‐ midiáticas, educacionais, políticas, religiosas), as intenções
comunicativas, o interlocutor, a própria temática do blog (que pode interferir e condicionar a utilização de determinada variedade linguística e de determinado gênero e tipologia textual), as questões de autoria (validade de determinada informação, questões acerca do plágio), entre outras. O blog permite, assim, um contato rico com a linguagem, possibilitando a imersão dos alunos em tal universo não só como consumidores de informações, mas também, e principalmente, como produtores e pensadores das práticas discursivas. Nesta perspectiva, o blog se torna uma importante ferramenta de reflexão e produções textuais, já que, além de sua confecção e publicação serem gratuitas, há a ampliação do público leitor dos alunos, trazendo para o cenário da escrita um destinatário real – não mais, apenas, o leitor‐avaliador (professor). Modifica‐se, então, um quadro usual da escola: os alunos, que muitas vezes vêem o livro didático como o único modelo de escrita e de leitura, não lendo, muitas vezes, outros gêneros fora da escola e, ainda, simulando, constantemente, um interlocutor para suas produções (o que acaba por gerar textos descontextualizados e repletos de clichês, sem um real posicionamento do produtor já que este vê a escrita como algo utilizado, unicamente, para e na escola com vistas à obtenção de uma nota); acabam, agora, com a utilização do blog, lendo outras produções além das vinculadas ao livro didático e à escola e, ainda, se
tornam, realmente, produtores textuais. Neste sentido, observa‐se que o blog pode ser uma ferramenta potencializadora para o ensino: além de ser algo que atrai os alunos (usuários das tecnologias fora dos espaços escolares), com a utilização do blog é possível resgatar uma motivação para a aprendizagem da língua materna, uma vez que os alunos realmente entrarão em contato com os seus usos, observando sua
importância para a mediação de qualquer prática discursiva, inclusive as suas, já que, ao tornarem seus textos públicos, “seu conteúdo, sua forma, sua pontuação, sua ortografia, passam a ter importância, (...) e, [assim], passa a ter sentido a busca pela correção, pela reescritura, pela argumentação mais sólida, (...) pela
frase mais estruturada” (MAGDALENA;COSTA, 2003, p.63). É por isso que Gomes (2005) comenta que o blog pode ser utilizado de duas formas, ambas importantes para o ensino e aprendizagem: como recurso pedagógico e como estratégia pedagógica. No primeiro caso, o blog é visto como um espaço de acesso à informação especializada e como um espaço de disponibilização de informação por parte do professor. Privilegia‐se, assim, o pólo do professor (produtor de conteúdos para os alunos lerem e, no máximo, comentá‐ los). No segundo caso, o blog assume a forma de um portfólio digital, um espaço de ntercâmbio e colaboração para o debate e para a integração e construção do conhecimento (idem, p.312‐313). Volta‐se, então, para a participação dos alunos, que deverão, com a orientação do professor, produzir textos e postá‐los para outros leitores, sendo, desta forma, os grandes responsáveis por todo o processo de
construção do conhecimento (abrangendo, aí, a pesquisa, a seleção, a organização e reorganização das informações em torno de um determinado tema, reflexão e síntese destas informações, escrita e reescrita, entre outras). Vê‐se assim que o blog pode contribuir de diversas formas para o ensino e para a aprendizagem: pode ser uma fonte de e um incentivo à pesquisa de conteúdos diversos (de informações, opiniões) e, consequentemente, para a reflexão acerca de tais conteúdos; um loccus para a interação e produção textual; um portfólio digital (ARAUJO JUNIOR, 2008; GOMES, 2005) permitindo aos alunos (e
aos seus seguidores) um acompanhamento e uma reflexão sobre o aprendizado, gradualmente, construído e ali postado; pode contribuir para o desenvolvimento da criatividade dos educandos (por meio da personalização do blog), sendo, por fim, um novo canal de comunicação para a educação, “incentivando a cooperação e a colaboração” (ARAUJO JUNIOR, 2008) em uma aprendizagem mais significativa e
contextualizada à cultura contemporânea e às suas exigências.

O uso do blog na educação: relato de algumas experiências Seja promovendo um ensino mais contextualizado e significativo, que valorize a participação do aluno como um sujeito ativo na construção do seu conhecimento, ou, ainda, apenas como um loccus para a pesquisa e a reflexão, o blog pode, em muito, auxiliar no ensino e aprendizagem da língua materna, como vimos nos tópicos anteriores. Nesta parte do trabalho pretende‐se relatar algumas experiências pedagógicas que primaram pela associação das tecnologias digitais ao ensino tradicional, apontando quais foram as vantagens de tal uso e os problemas
encontrados. Iniciaremos, assim, pela experiência de Reis e Silva (et. al., 2007). Tendo como inspiração uma atividade interdisciplinar sobre Lixo e Cidadania com alunos do 7º ano, propôs‐se a construção de blogs para a pesquisa e o registro dos resultados encontrados. Os autores observaram que, com o uso dos blogs, os alunos ficaram mais motivados e participativos na construção coletiva dos conhecimentos, confrontando, por meio das postagens e dos comentários, os conteúdos publicados pelos outros alunos.
[Essa experiência com blogs] evidenciou o interesse e o envolvimento dos alunos durante a execução das atividades. Mostraram‐se motivados à participação e demonstraram autonomia na confecção dos blogs e na seleção do material. (...) A participação de alunos de outras séries com comentários, sugestões e informações demonstrou abrangência, interatividade e capacidade dos blogs de, através da hipertextualidade, permitir a multiplicidade de conhecimentos e potencializar a interdisciplinaridade. (REIS; SILVA et. al., 2007, p.06)
Para os autores, o blog foi uma importante ferramenta no desenvolvimento da interação e do estímulo à pesquisa, permitindo, ainda, uma reflexão sobre as questões do trabalho em grupo (cooperação, aprendizagem colaborativa, necessidade de constituição de grupo coeso, motivado por um objetivo comum), despertando grande interesse nos alunos que, realmente, se empenharam na confecção da atividade proposta. Outra experiência é a de Lopes (2010, online). O autor realizou, juntamente com alunos de três turmas do curso de Letras da Universidade Estadual de Maringá (UEM), na disciplina Literatura Brasileira, uma proposta de produção de blogs aliados à prática de seminários. Foram estabelecidos critérios de avaliação da produção dos alunos em seus blogs, visando garantir a qualidade da produção, a pesquisa contínua sobre o tema e a interatividade, estes critérios eram: frequência mínima de postagem (uma por semana); variedade nos tipos e gêneros textuais assim como nas mídias utilizadas em cada postagem; interatividade entre os grupos (cada grupo deveria visitar os dos outros grupos e comentar as postagens); obrigatoriedade no estabelecimento de uma rede de contatos e navegação através das ferramentas “meus amigos” e “links favoritos” (visando a fácil circulação por todos os blogs produzidos). O autor comenta que tal experiência se relevou muito gratificante uma vez que os alunos, dado a exigência de criação de textos próprios sobre a temática solicitada, além de lerem mais fontes e refletirem sobre elas, se preocuparam em adequar seus textos (linguagem, gênero) aos possíveis leitores, informando,
inclusive, as referências consultadas e utilizadas, assumindo, assim, uma atitude mais responsável frente as suas produções. Além disso, observou‐se uma maior participação dos alunos (inclusive daqueles que raramente se manifestavam em sala) e uma maior qualidade nos seminários (uma vez que sua preparação foi
compartilhada com os outros alunos, que, ao lerem as postagens, acompanharam e comentaram o desenvolvimento do conteúdo). Assim, com o uso do blog, o seminário não ficou restrito apenas a apresentação em sala e visando, unicamente, uma nota; mas sim à construção de um loccus para a pesquisa, produção e o compartilhar de conhecimentos, feitos pelos próprios alunos e voltados para um
público leitor real (não só vinculado a instituição de ensino). Contudo, o autor relata que também houve problemas [um] problema encontrado diz respeito à dificuldade de inclusão digital do aluno. Foram muitos que encontraram dificuldade no desenvolvimento da proposta por não terem computador em casa ou por não tê‐lo conectado à Internet. A saída encontrada foi a de reunirem‐se, cada grupo, periodicamente, na casa de quem tivesse computador conectado à Internet e de distribuir as atividades de edição levando isso em consideração, de modo que àqueles que não tinham acesso caseiro à Internet fizessem atividades tais como pesquisa em fontes bibliográficas, escritura e revisão dos textos. (...) Na condição de professor, o maior problema encontrado foi a falta de tempo e condições físicas para acompanhar a produção de todos os blogs (LOPES, 2010, online).
Outra experiência, também realizada na UEM, foi a confecção de um curso Leitura e Escrita em Blogs (2010, online), voltado para a capacitação e preparação de professores (da rede pública e particular do ensino) para o uso dos blogs. O curso fora realizado presencialmente (8h) e virtualmente (por meio da leitura e comentários das postagens referentes às temáticas abordadas no encontro presencial), visando não só munir os professores de um referencial teórico acerca dos blogs, mas, igualmente, permitir que eles, realmente, conhecessem e utilizassem tal ferramenta (daí boa parte do curso ocorrer virtualmente). Por meio dos comentários confeccionados pelos participantes do curso, é possível constatar que boa parte dos professores ainda não se sentem preparados para o uso de tal ferramenta em sala, seja porque acreditam que os alunos possuem mais conhecimentos que eles, seja porque, ainda, não sabem como adequar tal uso aos conteúdos obrigatórios do ensino. Observa‐se que as experiências aqui relatadas, embora curtas, permitem vislumbrar que o uso do blog pode ser estendido do Ensino Fundamental à Universidade, favorecendo práticas que estimulem uma aprendizagem mais efetiva e participativa, contextualizada às necessidades contemporâneas. Contudo, tais relatos evidenciam também que, embora a escola possua um papel fundamental para a promoção e a consolidação do letramento digital (uma vez que a Internet ‐ e qualquer outra tecnologia ‐ por si só, não consegue promover uma reflexão, uma criticidade e a ampliação dos saberes dos alunos) ela, muitas vezes, não se encontra preparada para tal (seja pela infraestrutura, seja porque os professores não se encontram preparados, entre outras).

Considerações Finais

Por tudo o que foi exposto, vê‐se a grande necessidade de a escola estar no mundo, ou seja, de não se fechar ao mundo tecnológico no qual estamos inseridos, uma vez que a ela e, principalmente, aos professores, cabe o grande papel de “coordenar roteiros seguros e eficientes para a construção do conhecimento do aluno navegante” (PINHEIRO, 2005, p.146), promovendo, assim, o letramento digital. Desta forma, é preciso que a escola e o corpo docente estabeleçam, como adverte Paulo Freire (1996), uma postura criticamente curiosa sobre tais tecnologias, reconhecendo a necessidade de aprender e reinventar competências, desenvolvendo novas habilidades que favoreçam ao domínio dos conhecimentos
(técnicos e pedagógicos) necessários para o uso das novas tecnologias em sala de aula de forma a contribuírem, realmente, para a promoção de um ensino e uma aprendizagem mais qualitativas e significativas.
O desafio que se coloca hoje é o de descobrir novas maneira de se explorar os recursos da interlocução digital, visando apontar as diferenças entre as mídias, explicando a finalidade e a utilidade de cada uma. O desafio que se tem hoje é resgatar o destinatário perdido, a motivação para escrever, a consciência da importância do ler para a formação do ser. E uma das grandes vantagens das tecnologias atuais é que, para se relacionar, para utilizá‐las, os usuários precisam escrever e ler. Daí o grande benefício: os professores devem utilizar e aproveitar o fato de que seus alunos vivem conectados para conscientizá‐los sobre os diferentes ambientes existentes, sobre a necessidade da adequação da linguagem (...), sobre a importância da criticidade (...) já que, muito mais do que uma ferramenta lúdica, a internet e seus gêneros podem contribuir para uma aprendizagem efetiva, uma vez que, além de oferecer informações variadas, permite um trabalho real com a língua. (MAGNABOSCO, 2009, p.61)
A escola deve, então, “aproveitar esse momento de inovações tecnológicas e modernizar suas práticas e propostas de ensino e aprendizagem, tanto na forma quanto no conteúdo, atendendo às novas necessidades impostas pelo mundo dinâmico e globalizado” (AMARAL; AMARAL, 2008, p.12). Assim, é importante que a escola se prepare e se abra para o trabalho e para a reflexão acerca dos gêneros digitais, uma vez que eles (como vimos no caso do blog) permitem um contato real com as diversas materializações textuais, proporcionando uma transformação na forma de ensinar e aprender: “do monopólio do saber [passa‐se] à construção coletiva do conhecimento (...) do isolamento individual aos trabalhos em equipes
interdisciplinares e à parceria no processo de educação” (AMARAL;AMARAL, 2008, p.12). Além disso, a promoção e a consolidação de um letramento digital e, consequentemente, de um ensino e uma aprendizagem mais contextualizados (voltados para o desenvolvimento de uma autonomia e uma criticidade frente ao universo intelectual e cultural no qual estamos inseridos), se tornam necessários não só tendo em vista uma “adequação às demandas econômicas do capitalismo (...)[mas sim] como uma necessidade (...) de sobrevivência no Século do Conhecimento” (XAVIER, 2010, online).

Fonte: http://www.ufpe.br/nehte/simposio/anais/Anais-Hipertexto-2010/Gislaine-Gracia-Magnabosco.pdf

O trajeto até a cibercultura


Evolução de "cibernética" ilustra a dificuldade de entender as novas aplicações dadas às palavras

Por Mário Eduardo Viaro

Um dos deleites de quem se interessa por étimos é criar associações. O raciocínio humano tem muito de analógico. Toda etapa de um sistema linguístico (tecnicamente conhecida como "sincronia") tem regras que a distinguem de etapas anteriores.

Uma língua pode ter irregularidades, mas sempre terá mais regularidades. Algumas, como chinês ou inglês, se valem do mínimo de elementos gramaticais: enfatizam palavras e regras sintáticas. Outras explicitam classificações e categorias que inexistem ou existem parcialmente na realidade, mas são importantes à língua e à visão de mundo da sociedade e do indivíduo.

Esses seres semiexistentes são as categorias morfológicas e morfossintáticas: gênero, número, caso, tempo, modo, aspecto etc. Todos que se esforçaram para criar línguas artificiais mais "lógicas" se debateram com essa multiplicidade de conceitos, eliminaram categorias mais idiossincráticas, mas mantiveram outras, tendo, paradoxalmente, uma visão particular do que seria universal.

Se há fatos universais nas línguas, precisaríamos reconhecê-los em níveis básicos e inegáveis. Tudo o mais só pode ser confirmado por investigação. Dados não devem a priori ser compreendidos com teorias dogmáticas, mas importa saber o que são de fato. É aí que entramos na fronteira desconfortável da etimologia.

Mudanças
Uma das verdades universais que alicerça o estudo histórico (e etimológico) é: palavras mudam. Mudam porque acrescentam ou subtraem sons que antes não tinham, porque esses sons trocam de posição na palavra, porque se transformam, porque o significado fica mais amplo ou restrito. Enfim, nada parece no lugar quando vemos "a mesma palavra" em tempos diferentes.

Como se modificam as estruturas e os valores sociais, tudo faz pensar que, ante a realidade social e cognitiva da língua, Heráclito está mais correto do que Platão. Palavras surgem de repente ou desaparecem, também sons, estruturas, regras sintáticas e demais categorias linguísticas.

Outra verdade universal: não há fronteiras entre línguas. Se não há, o que são línguas? Uma língua advém da uma sensação de sociedade unificada na mente do falante. É fácil, porém, alicerçar-se na suposta impermeabilidade das línguas: um castelhano pode não entender palavra do vizinho basco. Mas não é possível haver línguas puras e isoladas. Se imaginarmos que assim foram numa época, dado um isolamento político ou geográfico, veremos que não eram em outra: projetar a visão romântica de confinamento não é útil, pois não vemos isso nem em línguas insulares.

Palavras migram de língua a língua, por empréstimo: vendas, casamentos, trocas de tecnologia, dominações e discursos filosófico-religiosos são responsáveis pelo fenômeno. No mundo cibernético isso é ainda mais visível.

Cibercultura
Aliás, "cibernético" é boa palavra para confirmar as afirmações polêmicas acima. É proparoxítona. Portanto, não está na língua desde sempre. São raras as proparoxítonas nas cantigas galego-portuguesas e em textos medievais: as mais comuns de origem não culta talvez sejam "árvore", "fígado" e verbos como "cantávamos", mas até essas já foram paroxítonas: árvorfigadocantavamos. Principalmente no século 15, surgem palavras proparoxítonas, sobretudo latinas aportuguesadas e empréstimos italianos.

Apesar disso, o étimo é antigo. O sentido não era o atual: em dicionários de grego,kybernétes é "piloto", portanto, o adjetivo derivado kybernetikós referia-se a algo ligado ao piloto. Desde Homero há kybernétes e kybernetikós é comum em Platão. O Houaiss (2001) diz que o substantivo feminino "cibernética", com sentido atual, surgiu só no século 20. A mudança de sentido é mais visível que a da forma, pois a palavra é de origem culta (não transmitida de geração a geração por aquisição da linguagem, como as de origem popular, mas ressuscitada pela memória escrita, por um acadêmico).

Contatos
A terminação -ikós forma adjetivos no grego. O raciocínio é o mesmo para grammatikós, adjetivo cuja forma feminina, grammatiké, era usada como substantivo, subentendendo-se "arte": do uso adjetivo em tékhne grammatiké  (arte das letras) obtinha-se o substantivogrammatiké (gramática). No dicionário Bailly, há em grego antigo o substantivo kybernetiké(arte da navegação). "Conduzir um barco" equivale a dizer "conduzir as pessoas que estão num barco", daí o sentido amplo de "conduzir pessoas". O original kybernáo, de sentido náutico, passa ao latim já com esse significado: gubernare originará o "governar" português.

A passagem fonética de kybernáo a gubernare não é tão estranha: muitas palavras gregas iniciadas em k- passam a g- no latim (provavelmente, alguma característica da pronúncia na Magna Grécia, sul da península itálica). E há casos de y em palavras gregas que se tornam uno latim. Isso ocorria sobretudo em empréstimos antigos que se popularizaram cedo. O final da palavra não conta nas leis fonéticas: em grego, -áo é desinência verbal da 1ª pessoa do presente do indicativo e corresponde ao -o latino (terminações do infinitivo seriam -ân em grego e -are em latim).

Pode-se perguntar por que kybernáo não se tornou *cybernare em latim. Grego e latim tiveram vários momentos de contato. O fato de romanos dizerem gub- e não cyb- testemunha que a palavra não veio por via erudita mas popular, antes da expansão do Império Romano, que incluiria a Grécia em suas províncias. A transformação de gub- para gov- em português não foi diferente: todo u breve latino tende a o em português e todo b entre vogais se tornavlupum > lobo, habere > haver.

O dicionário Petit Robert afirma que cybernétique vem do inglês cybernetics e já em 1834 significaria "ciência do governo". Em francês, italiano e inglês, o sentido atual é abonado só em 1948, devido à acepção do título da obra de Norbert Wiener, em inglês. Em português, tanto a informação etimológica quanto a datação disponíveis parecem equivocadas, o que faz duvidar da data de 1948 para o português. O uso da data do inglês para todas as línguas informa - talvez erroneamente - a rápida popularização da acepção, por tradução de textos técnicos (fenômeno mais comum hoje), mas investigação detalhada para confirmar isso está por ser feita.

Assim, a acepção "ciência do governo" aos poucos mudou para "ciência do autogoverno" e, de repente, tornou-se, no jargão científico, o "estudo do controle e da comunicação tanto no animal quanto na máquina". Compreender mudanças semânticas requer a leitura de autores específicos, como Norbert Wiener, e perseguir seu raciocínio. Mas o sentido atual, praticamente único, é bem distinto do original. Quando saímos da "arte de conduzir barcos" para "arte de conduzir pessoas" vemos uma mudança metonímica. Ao sair da imagem de pessoas conduzidas por alguém para a de conduzidas por si mesmas ou de qualquer coisa conduzida por si, a ampliação de sentido faz ver uma mudança metafórica.

Raciocínios
Na mudança metonímica, não há comparação: barcos e pessoas não são vistos como mesma coisa por causa de semelhanças (físicas, por exemplo), como na metáfora, mas por relação de contiguidade (espacial: pessoas estão dentro do barco). Já na mudança metafórica, a ampliação ou redução de sentido mostra que se viu um ponto comum entre coisas distintas (condutor e conduzido são pessoas, portanto iguais e, da mesma forma, pessoas e coisas são seres). Raciocínios tão particulares (A está perto de B, portanto A é B, uma metonímia, ou então A é C, B também é C, portanto A é B, uma metáfora) podem conduzir a monstruosidades lógicas. Não posso dizer que se um livro está sobre a mesa, então o livro é a mesa. Nem que, se sou filho de Josué e meu irmão também, sou meu irmão. Mas esses raciocínios esquisitos caracterizam as principais mudanças semânticas nas etimologias: "fígado" em latim era iecur, que não sobreviveu. Mas um prato chamado iecur ficatum (fígado com figos), de tão popular, passou a denominar metonimicamente o fígado (ficatum) mesmo quando servido sem figos.

Caldo
Caldo" vem do latim calidum, "quente" (como o italiano caldo e o francês chaud), mas em português deixou de ser adjetivo e especificou "líquido quente". Com o tempo, houve movimento contrário, ao se generalizar o sentido a qualquer líquido (metaforicamente, usamos a palavra até para líquidos frios, como "caldo de cana").

Há outras transformações observadas desde que Bréal organizou essas tendências na semântica histórica, mas os movimentos lato sensu de metonímia e metáfora parecem explicar a maioria das mudanças de sentido. Conhecê-las ajuda a entender etimologias, não a chegar a étimos, pois nada substitui a investigação documental. O uso exclusivo do raciocínio em etimologia prega peças, pois a história das palavras está pronta a desmentir verdades sobre o passado atingidas pela razão.

Fonte: http://revistalingua.uol.com.br/textos/80/o-trajeto-ate-a-cibercultura-260799-1.asp

quarta-feira, 6 de março de 2013

O que um documentário pode revelar?




Em palestra para professores no SESC Consolação, no vídeo acima, o cineasta Lawrence Wahba fala sobre o gênero documentário, particularmente sua história e o processo de produção de um filme, explicando a ideia de que "uma imagem vale mais do que mil palavras".

No vídeo abaixo, Wahba debate com os professores, sugerindo ideias para o trabalho com o documentário na escola.



Fonte: http://blog.midiaseducacao.com/2013/03/o-que-um-documentario-pode-revelar.html

terça-feira, 5 de março de 2013

E-book: A importância da autorregulação da mídia para a defesa da liberdade de expressão



Lançado em 2001, pela UNESCO, o e-book, publicado dentro da série Debates Comunicação e Informação, A importância da autorregulação da mídia para a defesa da liberdade de expressão, escrito pelo consultor da entidade Andrew Puddephatt, apresenta uma discussão sobre o importante tema da regulação da mídia em sociedades democráticas. Nestas, a regulação deve ser um aspecto que possa promover e fortalecer a liberdade de expressão.

Fonte: http://blog.midiaseducacao.com/2013/03/e-book-importancia-da-autorregulacao-da.html

‘Toda escola deveria ter dois Diários de Classe’


Isadora Faber, de 13 anos, é a autora da página "Diário de Classe", no Facebook Foto: Arquivo pessoal
Isadora Faber, de 13 anos, é a autora da página "Diário de Classe", no Facebook Arquivo pessoal
Quando comecei o “Diário de Classe”, inspirada na escocesa Marta Pail, nunca imaginei a repercussão que daria. Conheci a força das redes sociais, e a direção da escola e a prefeitura também. Em poucas semanas, a escola foi reformada. Logo me dei conta de que poderia ser assim em todas as escolas e que tudo começa com uma boa direção. Transparência é fundamental. Saber como os recursos são aplicados é direito de todos. A escola é pública, mas não é de graça. Pagamos impostos, então, temos o direito de saber como os recursos são aplicados.
Mas a infraestrutura das escolas é apenas parte do problema. Outro dia, achei uns livros e cadernos do meu pai dos tempos em que ele estava na escola, nos anos 70-80. Como não sabia exatamente como era a educação antigamente, resolvi dar uma olhadinha. Os trabalhos eram escritos à máquina, e trabalhos e provas em mimeógrafo. Na época, não existia celular, computador nem internet. Quando olhei o conteúdo dos cadernos, fiquei surpresa. Parecia um caderno meu ou de qualquer colega. Eu pensei: passaram-se 40 anos, inventaram o computador, a internet, e a escola continua a mesma? Será que no resto do mundo a educação é assim também? Com uma rápida pesquisa pela internet é possível ver que não. Escolas asiáticas estão muito à nossa frente. Escolas europeias e da América do Norte também. Professores despreparados e desmotivados fazem parte do problema. Chegou a hora de a educação brasileira ser levada a sério. Todos temos direito a uma educação de qualidade.
Toda escola deveria ter dois “Diários de Classe”: um dos alunos e outro da direção e dos professores. Todos devemos cuidar da escola, alunos, professores, pais de alunos. Hoje, com as redes sociais, podemos mostrar como estão os colégios no Brasil, cobrar dos responsáveis atitudes, vergonha na cara. Não há motivos para poupar quem não faz nada. Todos são profissionais e ganham por isso, logo, têm que trabalhar e fazer o melhor. Pessoas que não trabalham ou não mostram competência têm que ser afastadas. As redes sociais já mostraram sua força em outros países e até derrubaram governos. Por que não podemos fazer o mesmo em relação à educação?
Fonte: http://oglobo.globo.com/topico-formou/toda-escola-deveria-ter-dois-diarios-de-classe-7740782

segunda-feira, 4 de março de 2013

A comunicação na sala de aula

Compartilhamos abaixo planos de aula da coordenadora pedagógica Carla Lopes. O tema das aulas era Comunicação. A ideia de Carla era propor atividades para analisar e debater com jovens a criação do espaço cidadão e a formação de identidades na mídia. 
Na época em que os planos foram publicados, ela era professora do Colégio Estadual Professor Sousa da Silveira, no Rio de Janeiro e havia desenvolvido com seus alunos o projeto “Mídia: criação do espaço cidadão e formação de identidades”, que integrava o programa político pedagógico do colégio, o “Reflexões e Debates para a Consciência Negra”. 
É essa experiência que ela se propõe a compartilhar nos planos de aula abaixo, tendo também como referência o artigo “Circuitos de Acesso”, publicado na revista Onda Jovem (e escrito por nós), na edição que trata da contribuição das mídias à educação juvenil. Para Carla, na era em que vivemos, da tecnologia da informação, educadores e educandos não podem de forma alguma receber reativamente as inovações tecnológicas. “Nos cabe aprendê-las e nos empoderarmos delas, produzindo através delas resultados que atendam às necessidades locais e façam a interlocução com o espaço global.” 

AULA 1 

TEMAS PROPOSTOS O que é mídia? O que funciona como mídia? O que são os veículos de comunicação? Como cumprem suas funções? Que investimentos necessitam para cumprir suas funções? A “quê”/ a “quem” a mídia serve?

OBJETIVOS 
- Pesquisar o significado do vocábulo no dicionário e definir o conceito de mídia. 
- Identificar tudo que funciona como mídia: de simples placas e faixas artesanais, camisetas e panfletos, carro de som, passando pelas peças publicitárias até os veículos de comunicação e informação (jornais, revistas, emissoras de rádio e TV, sites na web). 
- Identificar os processos de comunicação trabalhados via essas mídias: de que forma e em que escala elas atingem os públicos a que se destinam. 
- Introduzir o conceito de comunicação de massa.
- Discutir a relação entre os processos de comunicação de massa, os investimentos necessários e o poder econômico. 

ATIVIDADE EM SALA DE AULA 
Montagem de um painel classificatório das mídias exemplificadas e seus respectivos alcances. 

RECURSOS MATERIAIS 
Panfletos de pequeno comércio, flyers (comunicação de eventos festivos e shows), camisetas, cartazes, bottons, adesivos, jornais comunitários, jornais de grande circulação, revistas e peças publicitárias impressas. 

COMENTÁRIOS Sugiro que a atividade se inicie com a apresentação do material reunido para a aula, buscando saber o que nele os alunos classificam como mídia. Partindo da idéia de que o termo mídia é bastante difundido, é interessante saber como os alunos o definem e é necessário cotejar as respostas com o significado do vocábulo no dicionário. Com a definição do termo mídia é importante rever a classificação do material apresentado no primeiro momento da aula, podendo haver alguma revisão dela. Este é o momento para ampliar a lista dos exemplos. No exercício que fecha a atividade, proponho a confecção de um painel que relacione cada uma das mídias listadas, com seu funcionamento, seu alcance de público e comparando os investimentos necessários. Este painel baseará a discussão do conceito de comunicação de massa. 

REFERÊNCIAS 
Mídia e Meios de Comunicação Sociaishttp://www.dhnet.org.br/direitos/textos/midia/index.html 
SOARES, Ismar de Oliveira. Gestão comunicativa e educação: caminhos da educomunicação in revista Comunicação & Educação. São Paulo: ECA/USP – Editora Segmento, Ano VIII, n. 23: 16 a 25, jan./abr, 2002.

AULA 2 
TEMAS PROPOSTOS 
A importância de discutir a mídia 
Visões de mundo e implicações socioculturais 
Liberdades: pensamento, opinião e expressão 

OBJETIVOS 
- Definir como ponto central e orientador deste conjunto de aulas as mídias jornalísticas. 
- Evidenciar a influência da mídia nas esferas políticas, sociais, econômicas e nos padrões culturais e comportamentais. 
- Apresentar os artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Constituição Federal de 1988 que deixam claras as relações entre liberdade de pensamento, de opinião e expressão e a mídia. 

ATIVIDADE EM SALA DE AULA 
Formação de grupos para analisar os dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD/IBGE), os artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Constituição Federal de 1988 para entender a importância de discutir a mídia. 

RECURSOS MATERIAIS 
Textos impressos 

COMENTÁRIOS Alcançada a compreensão de que mídia é a designação do conjunto de meios, veículos e canais de comunicação, minha orientação neste plano de aula é focar a discussão na informação jornalística. O primeiro passo para mostrar a importância de discutir a mídia é tomar alguns dados para revelar uma situação sobre a qual já ouvimos há tempos: os meios de comunicação de massa atingem mais pessoas e por mais tempo que a escola. Mais da metade da população brasileira não ultrapassou o ensino fundamental, em quantidade menor ainda estudou mais de oito anos. Contudo, cerca de 90% da nossa população possui rádio e televisão. A circulação de informações, e também de conhecimentos, fora do âmbito escolar, via mídia, é um forte dado na sociedade brasileira, daí a importância de se compreender seu peso na formação de comportamentos, modelos de conduta e visões de mundo, com suas conseqüentes implicações socioculturais. Diante destes dados e deste panorama é um momento ideal para se tratar do valor de uma mídia livre e democrática, plural e acessível, objetivando a igualdade e o bem-estar. Isto tem ampla base em artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Constituição Brasileira de 1988, que asseguram o direito a uma mídia democrática. É importante evitar qualquer simplificação do debate sobre a mídia, fugindo do dualismo “bem versus mal” e buscando o entendimento que a comunicação serve sim a vários interesses e que é sobre seu processo que deve haver uma leitura crítica, contando que crítica não é simplesmente uma valoração negativa e sim o exame e a análise criteriosa. 

REFERÊNCIAS 
Constituição Federal Brasileira de 1988 . Capítulo dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (art. 5º) . Capítulo da Comunicação Social (art. 220) 
Declaração Universal dos Direitos Humanos – ONU (artigos XVIII e XIX)http://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm 
Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD/IBGE) – Tabelas (Capítulo 3: Educação / Capítulo 6: Domicílios)
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2005/default.shtm

AULA 3 

TEMAS PROPOSTOS 
Processo comunicativo: produção, veiculação, recepção, percepção e uso das mensagens. Jornalismo: função, dimensão do trabalho na formação de opinião, objetividade, imparcialidade e ética. 
OBJETIVOS 
- Compreender o processo de produção jornalístico: as fontes, a reportagem, a apuração dos fatos e pesquisas históricas, a redação, a fotografia, a editoria, a redação final e a diagramação. - Entender a função do jornalista e suas dimensões. 
- Distinguir tipologias/gênero de textos e linguagens: textos informativos, textos de opinião, textos de publicidade, textos literários e textos de entretenimento. 
- Evidenciar a necessidade do gosto pela língua portuguesa e do desenvolvimento de habilidades de leitura, interpretação de texto e escrita. 
- Discutir o uso social dos discursos dos meios de comunicação e sua apreensão pelo público. 

ATIVIDADES EM SALA DE AULA 
Análise e identificação da composição dos jornais. Análise e identificação da composição dos textos jornalísticos. 

RECURSOS MATERIAIS 
Exemplares de jornais de grande, médio e pequeno porte. 

COMENTÁRIOS 
O ponto inicial desta aula trabalha com exemplares de jornais para que os alunos entendam a sua composição desde a primeira página até os classificados e a sua organização empresarial. Sugiro que a turma seja dividida em grupos de no máximo cinco alunos para que a atividade seja bem realizada. O interesse é que façam uma análise do conteúdo e da forma: . Que notícias estão destacadas na primeira página? Que notícia tem a maior matéria? Que notícia tem mais matérias, artigos e editoriais? Que notícia está coberta com a maior foto ou com mais fotos? Que notícias têm charges? Que notícias têm os menores espaços? . Quais cadernos compõem os jornais? Que áreas de informação e conhecimento cobrem (política, economia, negócios, esportes, policial)? Que cadernos têm áreas específicas de interesse (cultura e artes, moda, saúde, informática, TV, bairro)? Quais áreas da informação e do conhecimento têm cobertura diária e quais áreas têm publicação periódica? Nestes jornais devem ser identificados os cargos e as funções das direções, das áreas executivas, das editorias e das redações e devem ser contados os jornalistas e fotógrafos que assinam as matérias, para se ter uma idéia da organização, do conjunto e da quantidade de profissionais envolvidos. Trabalhando com as notícias de mais destaque que tenham matérias jornalísticas, fotografias, infográficos, artigos, editoriais e charges, o professor pode distinguir os tipos (tipologia ou gênero) de textos jornalísticos: textos informativos e textos de opinião e ainda apontar outros tipos também presentes nos jornais, como textos literários, textos de entretenimento e textos de publicidade, para pedir que os alunos os identifiquem nos exemplares com que estão trabalhando. Tendo visto o jornal na sua grande forma e organização, creio que as atenções devem ser levadas para a matéria-prima dele, a notícia, e para o seu processamento: a cobertura do fato e sua apuração, as pesquisas de informação em variados tipos de fontes documentais, a redação da matéria, a análise e a orientação editorial, a redação final e a diagramação com a imagem fotográfica. Entendido este processo de trabalho, pode ser proposta a reflexão sobre como, partindo do mesmo fato, notícias diferentes, diversas e até antagônicas chegam ao público? Dando seqüência nesta reflexão pode ser proposta a discussão sobre o trabalho do jornalista e suas dimensões. Para finalizar a aula de forma encadeada, trabalhando com as matérias selecionadas e abrindo as questões sobre a recepção e a percepção das informações pelos alunos, sugiro que uma série de perguntas como as que seguem sejam feita para os grupos: . O título é condizente com o conteúdo e o desenvolvimento da matéria? . O texto jornalístico relata fatos ou se compõe também com as opiniões do autor? . Como os indivíduos relacionados aos fatos daquelas matérias e suas comunidades foram tratados e devem ter sido impactados pelas notícias? . Como pensam que a sociedade como um todo está se posicionando diante daquelas notícias? 

REFERÊNCIAS 
FARACO, Carlos Alberto. Português: língua e cultura, ensino médio, volume único. Curitiba: Base Editora, 2003. 
MARTINS, Eduardo Lopes. Manual de redação e estilo de O Estado de São Paulo, 3 ed, ver. e amp. São Paulo: O Estado de São Paulo/Editora Moderna, 1997. 
OLIVEIRA, Dennis. Fronteiras do jornalismo no espaço midiático: A real dimensão da função ideológica da informação jornalística Revista PJ:BR, São Paulo: ECA/USP, Edição 05, 1o. sem., 2005 http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/especial5_e.htm R
ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo. São Paulo: Brasiliense,2000. 

AULA 4 
TEMAS PROPOSTOS 
Organização e comunicação comunitária. 
Protagonismo popular e participação cidadã. 
Afirmação identitária e ideológica. 
Veículos de comunicação com interesses segmentados. 

OBJETIVOS 
- Promover uma ampla discussão com questões para se entender a identificação dos indivíduos e de suas comunidades com os veículos de informação: . O que na(s) mídia(s) jornalística(s) expressa realidades vividas por você? . Os meios de comunicação podem ser meios de desinformação? Se realmente podem, como isto se dá? . Você confia nas informações veiculadas pela mídia? . Por que você acha que "notícias ruins" têm grande ênfase na mídia? Como acredita que isto funciona socialmente? . Você acha que todo cidadão pode desempenhar as atividades jornalísticas? Se cidadãos organizados produzirem um veículo de informação, acredita que este terá credibilidade? 
- Apresentar as possibilidades de produção de informação fora dos grandes veículos. 

ATIVIDADES EM SALA DE AULA 
Leitura e interpretação de textos 

ATIVIDADE EXTRA-CLASSE 
Elaboração e montagem de jornal mural RECURSOS 

MATERIAIS 
Textos impressos Exemplares de jornais comunitários e segmentados 

COMENTÁRIOS 
Esta aula deve ser orientada para uma ampla discussão sobre a identificação dos alunos e suas comunidades com os veículos de informação: jornais, rádios, TVs, web sites, blogs e outros veículos que venham a ser listados. A proposta é levar os alunos a identificarem que, para além dos veículos de comunicação de massa, existe a produção de veículos de comunicação pela iniciativa de grupos sociais que não se vêem representados, bem como seus interesses, ou ainda, que desejam ser apresentados por si próprios e não sob a visão de outros. Feita esta identificação vale perguntar: por que estes grupos sociais têm esta necessidade? Distribua entre os alunos os exemplares de jornais comunitários e segmentados e solicite que façam um quadro comparativo entre os tipos de abordagem que eles apresentam e os contidos nos jornais de grande circulação. Estes grupos de comunicadores podem estar reunidos por várias razões: ideologia política, gênero, etnia, por gostos e modismos, por interesses comunitários e experiências comuns. É importante frisar que a busca por expressão própria e independente tem longa data e devem ser citados exemplos, como o do jornal "O Homem de Cor" fundado em 1833, primeira iniciativa da imprensa afrobrasileira. Para buscar a compreensão da significância da produção, vale a pergunta: podem-se resgatar informações factuais, compreender momentos políticos, entender contextos sociais através destes veículos? De posse do quadro comparativo entre os jornais comunitários e segmentados e os grandes jornais, sugiro que seja lançado o “desafio” para a elaboração de um jornal mural sobre a comunidade escolar. Caberá ao professor, com os conhecimentos da Aula 3, orientar a formação de dois grupos com a estrutura básica para a produção jornalística. A sugestão de ter dois grupos intenciona vivenciar as possibilidades que os mesmos fatos possam ser reportados de duas maneiras diferentes, com desenvolvimentos e ênfases particulares a cada grupo e gerar opiniões diversas.

Obs. 1: A indicação de um jornal mural é neste plano de aula uma maneira de equalizar esta experiência entre muitas realidades diferentes no que tange ao acesso a recursos. E ainda que os grupos de trabalho disponham de recursos melhores e mais sofisticados para a produção final, o jornal mural poderá ser encarado como uma experiência matriz para o trabalho em qualquer outro suporte tecnológico. 
Obs. 2: A experiência proposta é muito viva e acredito que envolverá os alunos com grande estímulo e poderá ser finalizada de duas formas a partir da avaliação dos resultados pela turma: unificar os grupos para a produção de um trabalho final conjunto; manter-se os dois grupos com produções distintas. 

REFERÊNCIAS 
“Com câmeras na mão, indígenas lutam para manter tradição” (Agência Reuters)http://www.direitoacomunicacao.org.br/novo/content.php?option=com_content&task=view&id=982&Itemid=912 
FACULDADES INTEGRADAS HÉLIO ALONSO – Núcleo de Educação e Comunicação Comunitária / NECC – Revista Comunicação & Comunidade (depot)http://facha.edu.br/necc/revista.htm 
FOERST, Gerda Margit Schütz. A IMAGEM E IDENTIDADE: um estudo sobre a construção da visibilidade de negros e mulheres em imagens artísticas e na mídiawww.fazendogenero7.ufsc.br/artigos/G/Gerda_Foerste_35.pdf 
“Grande imprensa perde espaço para cidadão-jornalista” (Agência BBC Brasil) www.milenio.com.br/milenio/noticias/ntc.asp?Cod=867 GRUMINhttp://www.grumin.org.br/ 
MARQUES, José Reinaldo. Jornalismo na prática - A luta para continuar independente (2/9/2005) http://www.abi.org.br/primeirapagina.asp?id=1164 
PERUZZO, Cicilia M. Krohling. Comunicação comunitária e educação para a cidadania http://www2.metodista.br/unesco/PCLA/revista13/artigos%2013-3.htm 
_______. Webjornalismo: do Hipertexto e da Interatividade ao Cidadão Jornalistahttp://www.versoereverso.unisinos.br/index.php?e=1&s=9&a=3 
PINTO, Ana Flávia Magalhães. A imprensa negra no Brasil - momentos iniciaishttp://www.irohin.org.br/ref/inegra/20060530_01.htm 
SANTOS, Cíntia Amária. O processo de alimentação da imprensa interiorana e a grande imprensa nacional. Revista PJ:BR, São Paulo: ECA/USP, Edição 05, 1o. sem., 2005 http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/dossie5_d.htm

AULA 5
TEMAS PROPOSTOS
Tecnologias de informação e comunicação Inclusão digital X exclusão social 

OBJETIVOS
- Discutir a utilização dos equipamentos e facilidades tecnológicas como ferramentas de suporte a geração de conteúdos. 
- Discutir o desenvolvimento de políticas que priorizem a utilização destes meios e não apenas o seu fornecimento. 
- Discutir a importância de criar, planejar e implementar projetos que proporcionem oportunidades de indivíduos formarem e integrarem cadeias criativas e produtivas, promovendo caminhos autônomos e emancipadores. 
- Desmistificar a forma de produção de informação e conhecimento em suportes tecnológicos como mais valorosos do que outras. 

ATIVIDADE EM SALA DE AULA 
Leitura crítica da letra da música “Pela Internet” (de Gilberto Gil) 

RECURSOS MATERIAIS 
Textos impressos 

COMENTÁRIOS 
A passagem do conhecimento foi e é vital para a sobrevivência e a evolução humana. A comunicação é a via de passagem do conhecimento: o gesto, a palavra e a escrita, em uma evolução crescente de linguagens. Sugiro no início desta aula listar com os alunos quais inovações tecnológicas foram usadas, a partir da criação da escrita, para a difusão de informação e conhecimento. Suportes de pedra e de tecido já foram grandes inovações que possibilitaram armazenar e circular informação e conhecimento. Há tempos existe um grande debate sobre o uso de tecnologias de comunicação no processo educacional, os tópicos eram o rádio e a TV. Educação e tecnologia sempre andaram de mãos dadas. Tecnologias são produtos de saberes. Em moto perpétuo alavancam a produção de mais saberes e estes a criação de novas tecnologias. Em um exercício rápido o professor junto com os alunos pode encadear um exemplo deste moto perpétuo. Este debate hoje atualizado fala sobre as tecnologias de informação, acrescentando no processo educacional: produção audiovisual (rádio e TV), computadores conectados à Internet, produção interativa e colaborativa. A Educação é responsabilidade do Estado com seus cidadãos e uma prioridade global. É indicadora de cidadania e fator de competitividade. Agora, no Brasil, antigas carências do sistema educacional encontram-se com urgentes demandas de modernização dos seus processos pelas tecnologias de informação. Por diversos fatores a tecnologia de informação tem grande apelo, e assim, um conjunto de políticas públicas de Educação, com recursos privados e governamentais, movendo-se com significativos esforços têm equipado escolas com computadores com acesso à Internet, com estúdios de rádio e com câmeras e sistema de edição de vídeo, ações que são conhecidas como Inclusão Digital, que estão no âmbito da Inclusão Social, que no seu panorama geral é trabalhada com Saúde, Educação, Emprego e Moradia. Sugiro que os alunos sejam convidados a opinar no que o acesso a tais equipamentos e recursos melhorou, está melhorando ou poderá melhorar efetivamente seu aprendizado escolar, suas possibilidades de colocação no mercado de trabalho e sua relação comunitária. Continuando com o estímulo às manifestações, sugiro que seja desenhado o quadro da realidade escolar local, com suas carências em ordem de prioridades para busca de soluções e de que maneira a Inclusão Digital contribui, ou pode vir a contribuir, para ações transformadoras, educacionais e sociais. Tomando a música “Pela Internet” de Gilberto Gil, para canto e interpretação do texto da letra, sugiro que se proponha a reflexão sobre em que medida as políticas de Inclusão Digital estão preparando os alunos para criarem caminhos autônomos e emancipatórios e se relacionarem com cadeias criativas e produtivas. 

REFERÊNCIAS 
LOFY, Willian. Inclusão Digital X Analfabetismohttp://www.direitonet.com.br/artigos/x/20/25/2025/ 
NAZARENO, Cláudio (e outros). Tecnologias da informação e sociedade: o panorama brasileiro. Brasília: Câmara dos Deputados, 2007 http://www.camara.gov.br/internet/infdoc/Publicacoes/html/ pdf/tecnologia_info.pdf PARENTE, Cristiane. Circuitos de acesso. In revista Onda Jovem, Ano III, n. 8, julho-2007.

AULA 6 
TEMAS PROPOSTOS 
Democratização da mídia: participação cidadã 
Sustentabilidade 

OBJETIVOS
Apresentar para a comunidade escolar o Jornal Mural elaborado pelos alunos 

RECURSOS MATERIAIS 
Espaço em que se possam acomodar alunos, professores, funcionários e convidados. 

COMENTÁRIOS 
Os alunos deverão mobilizar a comunidade escolar para a apresentação do resultado da experiência de produção do Jornal Mural. Os integrantes da equipe do Jornal Mural deverão relatar suas experiências, explicando as suas funções e tarefas e as fases de trabalho necessárias para a produção, de modo a deixar claro para todos na escola o processo de concepção e gestão do seu veículo. Será importante o professor alertar aos alunos, neste momento de lançamento, que tenham o entendimento de que um veículo de comunicação vive dos seus leitores, ouvintes e expectadores, assim sendo esta pode ser a ocasião de se criar a essencial relação entre a comunidade escolar e o jornal, o que pode ser feito com o estabelecimento da simpática seção de cartas, como espaço para a publicação das manifestações dos leitores. Na mesma linha de relacionamento com o público, conforme a maturidade que a equipe revelar, poderá ser criado o cargo de ombudsman, membro da equipe do veículo de comunicação que é responsável por receber dos leitores críticas, queixas e denúncias de erros, desvios e abusos e investigá-los, respondendo de forma independente no próprio veículo. A continuidade do trabalho, sua consistência, a conquista e a fidelização de leitores podem apontar para um crescimento do jornal e propiciar aos alunos uma visão de empreendimento, para o qual eles terão que buscar a sustentabilidade, o que vai requerer que eles planilhem suas ocupações de tempo e necessidades de recursos materiais e elaborem um plano de negócios para fazerem a captação de apoios institucionais e/ou financeiros.

Fonte: http://culturamidiaeducacao.blogspot.com.br/2010/06/compartilhamos-abaixo-planos-de-aula-da.html