Para promotor de justiça, a família é um dos pilares da governança e precisa ter atuação participativa.
"Qual o papel da família na escola? Será que eu só chamo-a quando vou fazer uma limpeza nas salas ou vou pintar uma parede?". Essas são algumas das indagações do promotor de justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo Luiz Antonio Miguel Ferreira, feitas durante seminário sobre políticas educacionais ocorrido em outubro. Mestre em Educação e membro do Conselho Consultivo da Fundação ABRINQ, Ferreira chamou atenção para a necessidade de olhar astransformações na sociedade para entender como ela deve atuar na gestão educacional hoje.
Para ele, não é possível pensar na Educação do passado na sociedade atual, pois o paradigma mudou. "No passado, tínhamos uma escola seletiva e excludente. Hoje, nós temos uma escola inclusiva, que deve abranger todas as crianças e os adolescentes", explica. A família também sofreu mudanças: se a antiga era patriarcal, atualmente ela é horizontal, e vemos tanto o pai quanto a mãe trabalhando. Por isso, ele coloca que não é possível comparar a gestão do passado com a de hoje. Nem o papel do gestor da escola, do secretário de educação ou mesmo da família.
Além disso, ele cita como princípios básicos da governança a transparência, a equidade, a prestação de contas e a responsabilidade sócio organizacional. E, para que ela funcione, é preciso que todos os atores da educação se engajem e se comprometam: promotores de justiça, conselho tutelar, gestores públicos, professores, sociedade, família.
"Os responsáveis pela educação somos todos nós. Estado, a família, os professores, em colaboração com a sociedade. E isso é de extrema importância, porque se um falha, sobrecarrega o outro. Se o Estado falha, sobrecarrega a família. Se a família falha, sobrecarrega o Estado. Se os dois falham, nós, da sociedade, vamos pagar o pato. Então funciona como uma balança. Precisamos trabalhar juntos", explica.
O Educar para Crescer conversou com o promotor, que aprofundou a questão de como os pais devem atuar nesse cenário atual da governança educacional:
Qual deve ser a relação da família com esses agentes que atuam na gestão educacional?
Tem que ser uma relação plenamente participativa. Não pode ser aquela relação formal e técnica. Eu matriculo, vou às reuniões e tudo mais. E nem pode ser aquela relação tutelar, da escola querendo tutelar a família. Tem que ser uma relação democrática e participativa, em que você possa ver o que está acontecendo e chamar a escola de "parceira". É dessa forma que a família vai interagir com a instituição de ensino. Se você chamar os pais só para reclamar do filho, eles não vão aparecer. É preciso ver o outro lado, o lado positivo dessa família, o que pode ser feito etc.
Que mudanças devem ocorrer na questão da governança ou da parte do gestor escolar para lidar com o perfil da família atual?
É preciso entender essa nova família, essa nova realidade. Por exemplo, pensar no horário para marcar a reunião. Porque você pode marcá-la no meio tarde e a mãe não vai poder ir, porque ela é mãe e pai, ela trabalha, tem muitas coisas para fazer. O gestor tem que saber que essa nova família tem uma nova constituição, uma nova visão. É preciso fazer com que o gestor entenda essa nova realidade para poder participar, senão fica difícil.
O senhor falou que a família vai para a Justiça porque não consegue vaga na creche, o filho não sabe ler ou escrever etc. Isso mostra que a família não assume o seu papel de responsabilidade na educação, apenas busca por atuações pontuais?
Não, eu acho que tem algumas famílias que estão buscando os direitos delas, que usam a justiça como uma ferramenta, não só para reclamar. Se ela aparece na promotoria porque o filho não está recebendo merenda, ela não o faz só no nome dela, mas pelos outros também. Estou vendo mais comprometimento da parte da família com a escola e isso é legal. E quando os pais batem na porta da promotoria é porque estão acessando seu último recurso - já foram no secretário, na escola e nada resolveu.
Como o pai deve lidar com problemas de drogas e de evasão escolar, por exemplo, que já não chega a ser papel da escola e dos gestores?
O pai tem que entender que esse papel é dele. Ele não pode querer que a escola resolva o problema de drogas do filho, porque ele também é corresponsável por essa questão. Se está vendo que tem droga, ele precisa resolver isso, buscar outros meios - algum Caps (Centro de Atenção Psicossocial) ou Secretaria da Saúde. Eu não posso transferir para a escola aquilo que ela também não pode fazer. Posso trabalhar junto com ela, para que a escola me ajude, me encaminhe para onde for necessário nesse tratamento.
Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/politica-publica/papel-familia-gestao-educacional-761260.shtml?utm_source=redesabril_educar&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_educar
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