Fundada sobre pilar da heteroglossia , isto é, sobre o conjunto múltiplo e heterogêneo de vozes sociais que habitam a consciência humana ou, nas palavras de Voloshinov, sobre um auditório social interior bem estabelecido, em cuja atmosfera se constroem nossas deduções, nossas motivações, apreciações etc, a interação é a própria concepção de linguagem em Bakhtin. A linguagem é inter-ação. Em “Marxismo e filosofia da Linguagem” , Bakhtin (Voloshinov) diz que “Toda palavra comporta duas faces . Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém quanto pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da nteração do locutor e do ouvinte” (grifos do autor ). Dessa forma, no próprio dizer de Bakhtin, “a interação verbal constitui, assim, a realidade fundamental da língua”. Mas, o filósofo russo nos chama a atenção para não reduzirmos a interação ao diálogo, no sentido estrito do termo (interação face a face). Este, para o autor, constitui uma das formas primordiais de interação , mas ele deve ser compreendida em uma concepção mais ampla, que engloba toda a comunicação verbal de qualquer tipo. É importante termos em mente que, para Bakhtin, a palavra é ideológica por natureza e comporta nossas avaliações, de forma que a interação é um evento dinâmico onde o que está em jogo são posições axiológicas, confrontos de valores sociais. A interação é, portanto, o diálogo ininterrupto que resulta desse confronto e que constitui a natureza da linguagem . Para Bakhtin [e isso permeia toda a sua obra], viver é tomar posições continuamente, é enquadrar-se em um sistema de valores e, do interior dele, responder axiologicamente.
A interação entre o falante(locutor) e o ouvinte (interlocutor), para Bakhtin, é constituída através dos signos. As palavra s funcionam como um elo entre os sujeito s (interlocutores) e surgem carregadas de valores sociais que já foram também constituídos socialmente. Essa interlocução entre sujeitos é construída por meio da enunciação , dos discursos. Bakhtin atenta-nos, a todo instante, que o sujeito se constitui socialmente, através de suas interações e de seus diálogo s. Ao abordar o diálogo, Bakhtin, em “Marxismo e Filosofia da Linguagem”, explicita que “ a unidade real da língua que é realizada na fala não é a enunciação monológica individual e isolada, mas a interação, isto é o diálogo”. A recepção torna-se fundamental na consolidação do diálogo entre os indivíduos. Ao ser interpelado pela enunciação de outrem, no processo de compreensão e interpretação desses enunciados, o interlocutor oferece suas contrapalavras, o que torna a relação falante-ouvinte dialógica.” Os sujeitos, carregando consigo suas orientações ideológicas, se constituem através do(s) outro (s), dialogicamente, em uma interatividade complexa e dinâmica. Essa concepção de interlocução entre sujeito s, no entanto, não deve se limitar à fala propriamente dita, uma vez que existem outros tipos de diálogo s, outras interações.
Fonte: http://glossariandobakhtin.blogspot.com/
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