segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Em Tempos de Tintas Digitais: Escritos e Leitores - Parte I

Por: Eliana Rezende

De uma velocidade de ritmos e de suas relações, surge um mundo feito em compartimentos e uma explosão tecida em rede e composta por núcleos que se aglutinam e se afastam imitando o que seja viver em uma sociedade análogo-virtual.

São fragmentos compostos por pequenos textos, vídeos e mesmo imagens, que são concebidos e produzidos com intenções explícitas, quer por sua divulgação, quer por sua destruição. As formas de descarte são profundamente acentuadas e circunstanciada subjetivamente: a penúltima produção cede sempre lugar à última e que em vários casos encontra numa tecla delete o seu destino final. Tudo é facilmente substituído pelo imediatamente posterior. Ao “consumidor” final fica a incógnita dos objetivos, opções e escolhas tanto de uma ação quanto de outra.


As repercussões que tal ambiente, vivido e compartilhado em redes terá sobre comportamentos, ações e produções sociais, culturais e pessoais ainda gatinham. Estudos mais aprofundados precisarão e irão surgir como forma de remeter e verticalizar essas dimensões.

O que é indiscutível dizer é que as pessoas constroem uma representação de si (persona) tal como sempre o fizeram, o que ocorre no cenário atual é que as dimensões e o universo dessa exposição (avatar) são muito diferentes da que ocorria em tempos passados. Avatares (personas virtuais) expostos em compartilhamentos na rede possuem a possibilidade de ser construídos infinitamente pelos seus próprios produtores e reprodutores. Cortes e recortes são possíveis tanto quanto prováveis e tantos quantos queiram modificam o que tem em mãos para, em seguida, compartilhar a inúmeros outros.


Desse mundo editado e reeditado, fragmentado inúmeras vezes, os espaços de privacidade encurtaram-se. O ciberespaço oferece a dificuldade extra para que indivíduos consigam construir tais pontos. Anteriormente, eram físicos e circunscritos aos nossos locais de trabalho, a casa, a escola, nosso quarto: era simples defini-los. Hoje há uma movimentação tão grande e por tantos que a maioria não sabe bem onde acaba um e começa o outro, ou se de fato terminam! Espaços pessoais ou individuais, públicos ou sociais são movediços e se justapõem.

As chamadas correspondências ordinárias, biografias e mesmo diários, que forneceram tantos subsídios a gerações de historiadores e outros pesquisadores de diferentes áreas para análise e reflexão, encontram uma brusca mudança de formas e conteúdos. Em alguns casos, determinados formatos e padrões desaparecem ou vivem à beira da extinção.

Registros de próprio punho e correspondências com emissários definidos: algo totalmente em desuso e que inviabiliza a mais simples e primitiva forma de investigação composta por troca de ideias, pensamentos e sentimentos entre partes, está rapidamente desaparecendo. Substituídos por links, hiperlinks, textos, blogs, wikis e todas as formas de comunicação imediata, que são simplesmente tiradas do ar muitas vezes antes que as consigamos ler em sua inteireza. Conexões de sentido que ligam e linkam ideias e contextos perdem-se em malhas de sentido e, em muitos casos, pouco do que foi sua origem permanece.




Fonte: http://pensadosatinta.blogspot.com.br/2014/03/em-tempos-de-tintas-digitais-escritos-e.html

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