Uma boa parte da linguagem corporal tem origem cultural, o que produz muitas diferenças na forma como vivenciamos a dimensão corporal da comunicação. O exemplo mais claro disso são os emblemas que são gestos cujos significados são coletivamente negociados em um determinado grupo cultural.
Normalmente, gestos obscenos estão classificados nessa categoria. Se alguém fizer um gesto desses todos
entendem! No entanto, um estrangeiro pode ficar um pouco confuso.
É bom ficar alerta sobre isso, pois o “V” da vitória tem significados diferentes na Inglaterra, dependendo
se é feito mostrando as costas ou a palma da mão….
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Outro exemplo: é comum, entre os jovens, ensinar gestos a um estrangeiro como brincadeira para constrangê-lo. Por outro lado, o mesmo estrangeiro ao utilizar o gesto (ou expressão) perceberá que fez algo inapropriado, mas não terá a mesma percepção emocional do que aquilo significa para os integrantes da cultura onde a linguagem corporal (gesto) faz “todo o sentido”.
É comum encontrar nos livros de auto-ajuda que ensinam a interpretar a linguagem corporal que um “pessoa fechada” está com as pernas cruzadas e as mãos juntas (quem sabe até mesmo com a bolsa no colo se for uma mulher sentada). Entretanto, em algumas culturas, as mulheres aprendem que devem se sentar assim, com as pernas fechadas, com as mãos ou a bolsa no colo…. Nesse caso, isso não indicaria que está desconfortável, ela apenas segue uma regra social aprendida.
São as chamadas regras de display (Matsumoto, 1990), de demonstração ou de apresentação (dependendo da tradução). É a tão conhecida “cara de enterro“… por exemplo.
A análise da linguagem corporal é um tema tão interessante que expressões podem variar dentro de um mesmo grupo cultural (os brasileiros, por exemplo) e encontraremos gestos característicos de gaúchos, nordestinos, mineiros etc. Essa variação é conhecida como dialetos não verbais e vem sendo bastante estudada (Elfenbein et all, 2007).
De qualquer forma, é necessário prestar atenção a alguns aspectos importantes para não ficarmos mais confusos.
O psiquismo humano é composto de processos básicos (mais antigos, normalmente não conscientes e diretamente relacionados com o funcionamento do Sistema Nervoso Autônomo) e processos que podemos chamar de superiores (aqueles que nos diferenciam dos outros animais): (1) a ação conscientemente controlada; (2) a memória ativa e (3) o pensamento abstrato.
A maioria dos cientistas focaliza sua atenção em um ou outro conjunto de processos. A confusão desaparece quando conseguimos considerar que os processos básicos não prevalecem, necessariamente, sobre os superiores e vice-versa. Os processos atuam concomitantemente (de forma isolada ou articulada) e não há como prever, de forma geral, qual deles prevalecerá ou funcionará como “orientedor” principal de determinado comportamento.
É o que ocorre, por exemplo, com muitas das pessoas que se recuperam do uso de drogas ilícitas. Apesar da vontade de parar, os mecanismos básicos, relacionados com o circuito do prazer no Sistema Límbico, podem regular uma “vontade” de usar drogas novamente. Se estabelece, então, uma “competição” entre um processo consciente superior (saber que não deve drogar-se por vários motivos) e a dependência psíquica da droga ligada à alguma percepção supostamente agradável (processo básico).
Tendo isso em mente, concluímos que a linguagem corporal é simultaneamente cultural e biológica. O que torna seu estudo um desafio, devido a complexidade que apresenta.
Fonte: https://ibralc.com.br/a-linguagem-corporal-e-cultural/
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