Imagine a situação abaixo:
" A professora Helena pede para que os alunos organizem a fila em ordem alfabética pois já é a hora do lanche. Todos os alunos de, aproximadamente 5 anos de idade, pegam as suas lancheiras e começam a organizar a fila.
Nesse momento Lucas e Marcos começam a discutir para definirem seu lugar na fila. Marcos ainda não entende a ordem alfabética e insiste que vem antes de Lucas. Lucas sente-se irritado pois garante que vem antes de Marcos. A discussão continua, com os alunos cada vez mais irritados, até que Lucas empurra Marcos, que cai no chão, chorando muito.
A professora, nesse momento, intervem dizendo:
- Lucas peça desculpas para Marcos. Não quero que você empurre seus colegas. Marcos você vem depois de Lucas. Levante-se, não precisa chorar, não foi nada."
Lucas, nem olha para Marcos, e fala, bem baixinho: "Desculpa".
Então, a professora diz: "Não é assim. Dê um abraço em Marcos, todos devem ser amigos."
Os alunos se abraçam, com as mãozinhas fechadas e muito chateados. A fila segue para o refeitório. Lucas continua emburrado e Marcos vai choramingando"
Você já viveu alguma situação parecida em sua prática como educador? Vamos refletir na forma como este conflito foi "solucionado"?
A professora Helena definiu o critério de organização da fila: a ordem alfabética. Não houve questionamento se todos os alunos compreendiam e dominavam este critério. Todos sabiam a letra inicial do seu nome e de seus colegas? Além disso, os alunos conseguiriam ordenar a si mesmo e a seus colegas segundo o critério estipulado? Haveria algum recurso em sala-de-aula que poderia ajudá-los nessa tarefa?
Diante do conflito instaurado, a professora não permitiu que os alunos pensassem sobre o problema. Ela resolveu por eles: "Marcos você vem depois de Lucas"; "Lucas peça desculpas para seu colega".
Marcos e Lucas estavam muito bravos um com o outro. A professora acabou não reconhecendo seus sentimentos "Lucas peça desculpas para Marcos(...)Não é assim. Dê um abraço em Marcos, todos devem ser amigos."; "Levante-se, não precisa chorar, não foi nada". Eles fizeram o que a professora propôs mas as desculpas e o abraço não contribuíram para que percebessem uma forma melhor de lidarem com suas emoções. Vejam: "Os alunos se abraçam, com as mãozinhas fechadas e muito chateados.A fila segue para o refeitório. Lucas continua emburrado e Marcos vai choramingando"
Os alunos ocuparam um lugar passivo na solução desse conflito e a professora direcionou todas as ações. Como estes alunos poderão iniciar um movimento de pensar sobre suas ações e ampliar seu repertório de estratégias de solução de conflitos?
Em situações como esta, os educadores devem auxiliar os alunos a refletirem sobre suas ações e a identificarem seus sentimentos e emoções. Em primeiro lugar, ao lançar uma proposta os professores precisam verificar se todos tem condições de realizá-la ou informar recursos que podem auxiliá-los. Os conflitos vão acontecer. Nesses momentos, é importante que os alunos tenham a oportunidade de verbalizarem seus pensamentos e emoções e perceberem as consequências de seus atos.
No conflito relatado a professora poderia facilitar o diálogo dos envolvidos, intervindo de forma a colocar boas perguntas para Marcos e Lucas, tais como:
- Lucas porque você acha que vem antes de Marcos?
- Marcos qual a letra inicial de seu nome? Vejam no alfabeto: qual letra vem primeiro?
- Lucas como você estava se sentindo quando empurrou o seu colega?
- Marcos como você se sentiu ao ser empurrado?
- Vocês conseguem pensar em uma outra maneira que poderiam ter usado para resolver este problema?
- E agora, o que podemos fazer para reparar esta situação?
Caso a professora perceba que os alunos estão muito nervosos e que não conseguiriam dialogar, pode propor:
"Marcos seu choro me mostra que você está muito chateado com essa situação. Poxa, você deve estar muito bravo por ter sido empurrado. Vou esperar você se acalmar e então conversaremos."
"Lucas percebo que você está furioso com seu colega Marcos. Ele ficou teimando com você e isso o deixou muito irritado.Vou esperar você se acalmar e então conversaremos."
Vale ressaltar que caso as crianças não consigam responder as perguntas a professora pode ajudar indicando caminhos e as ajudando a criarem repertórios de como resolver situações como esta.
Com uma intervenção nesse sentido, os alunos poderão operar sobre o problema e colaborar para que o conflito seja solucionado. Muitas vezes, nós, professores, centralizamos todo o trabalho na sala de aula. Lideramos as brincadeiras, os trabalhos em grupo, resolvemos todos os conflitos e, até mesmo, a hora em que cada aluno pode utilizar o banheiro. Diante dessa postura, tolhemos dos alunos a oportunidade de pensar e colaborar na sistematização dos conteúdos e na resolução dos conflitos.
Por Pati Ottoni
Fonte: http://ipedagogicas.blogspot.com.br/2012/11/solucao-de-conflitos-em-sala-de-aula.html
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