por Fernanda Caetano
A internet pretende ser, a cada dia, o meio facilitador de infinitas atividades do cotidiano de bilhões de pessoas em todo mundo. A um passo de se tornar um comunicador universal, a empresa Google lançou seu tradutor de textos em até 52 línguas quase que de forma conjunta instantânea, e estima-se que em dez anos o tradutor opere em 250 idiomas. Esse sistema tecnológico eficiente está presente nos computadores da Google e supera rivais como o Bing, da Microsoft, e o Babel Fish, da Yahoo. Na busca do elo perdido, ou seja, de uma linguagem única, o homem promete mais uma vez desafiar as fronteiras multilíngues impostas por Deus como no “castigo divino” sobre a Torre de Babel, de acordo com os textos bíblicos.
O tradutor do Google tem como objetivo principal uma língua universal que une culturas distintas sem que o usuário abra mão da língua materna. O que antes parecia ser ficção científica, as ferramentas tecnológicas operam como avanço de grande utilidade na aproximação de diferentes idiomas, inclusive o acesso a aplicativos de tradução simultânea em telefones celulares ou similares, um prelúdio para um tradutor universal. Essa inovação tecnológica é advinda do conhecimento acumulado em inteligência artificial, ramo da computação que desenvolve modelos e programas em máquinas com um comportamento “inteligente”. O banco de dados do Google iniciou suas traduções em 2006, a partir de textos da ONU, Organização das Nações Unidas, para seis idiomas.
O trabalho de tradução dessa tecnologia remete à Pedra de Roseta, um bloco de granito de 1,20m de altura encontrado pelo exército de Napoleão no século XVIII, e que culminou na arte de decifrar os hieróglifos egípcios e a língua dos faraós no século XIX pelos estudiosos Thomas Young e Jean-François Champollion. Os computadores operam com pares de textos em línguas diferentes e calculam a probabilidade de correspondência das palavras de um idioma a termos de outra. De acordo com o cálculo, o sistema é capaz de formar textos em 52 idiomas no momento da consulta.
Como língua franca de ampla comunicação, no passado tivemos o Latim e hoje, o Inglês tem permanecido como o idioma que reúne a maioria dos textos científicos que permitem o acesso do usuário a diversas especialidades. Dessa forma, ele se vê diante de uma vasta biblioteca com o auxílio da tradução instantânea. Embora os usuários que utilizam a tradução instantânea saibam do que tratam os textos em outros idiomas, erros gramaticais, de concordância e de sentido são perceptíveis e podem atrapalhar a compreensão, tradução e produção de textos. Isso se deve ao fato de que um recurso tecnológico, no qual o próprio usuário contribui com o banco de dados do Google, sugerindo traduções alternativas àquelas fornecidas pelo tradutor sem o controle lingüístico das informações.
Com a agilidade dos sistemas de tradução simultânea, o processo de aquisição de uma nova língua, dizem os críticos na reportagem, estará defasado. Segundo o lingüista britânico David Crystal, “quando têm a oportunidade de escolha, as pessoas preferem se expressar no idioma materno”. O problema é que o contato com outro idioma não acontece somente quando mediado por computador. O ensino-aprendizagem de uma nova língua contribui para o conhecimento não só da língua-alvo, mas também da cultura e das relações humanas acima de tudo. De acordo com o filósofo italiano Luciano Floridi “seria um erro abandonar de vez o hábito de aprender línguas, pois conhecer um idioma é uma experiência insubstituível, um mergulho em outra cultura.” O que resta ao professor e ao aprendiz de línguas é assumir uma postura crítica de sua atuação profissional e seu papel no ensino de línguas estrangeiras. E, ainda, desenvolver suas competências na aquisição de conhecimento teórico e prático, seja em sala de aula, seja fora dela, mediadas por computador ou não.
Fonte: http://sala.org.br/resenhas/a-lingua-do-google-em-busca-do-elo-perdido
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