sexta-feira, 12 de julho de 2013

LINGUAGEM E GÊNERO SOCIAL: CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO E DA LINGÜÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL

Por Débora de Carvalho FIGUEIREDO
(Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem – Unisul – SC)

Introdução

Nas últimas décadas, a intersecção entre linguagem e gênero social tem sido explorada por várias/os lingüistas aplicadas/os (e.g. CAMERON, 1992, 1995, 2002; ECKERT; MCCONNEL-GINET, 2003; HOLMES; MEYERHOFF, 2003; WODAK, 1997; HEBERLE; OSTERMANN; FIGUEIREDO, 2006), interessadas/os no papel da linguagem e do discurso na construção de representações, relações, papéis e identidades de gênero em distintos contextos socioculturais onde a linguagem é utilizada e produzida. As abordagens teórico-metodológicas adotadas por essas/es pesquisadoras/es são as mais diversas, desde a Sociolingüística Interacional, a Análise de Discurso de linha francesa e a Análise Crítica do Discurso (ACD).

Nesse artigo, defendo o uso dos modelos teóricos e metodológicos propostos pela Análise Crítica do Discurso e pela Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF) (HALLIDAY, 2004) como ferramentas conceituais e analíticas para investigar e explicar, de uma perspectiva social crítica, as representações discursivas sobre o corpo e a identidade feminina em revistas para mulheres. Para a ACD, o uso da linguagem é visto como prática social, simultaneamente constituindo (i) identidades sociais, (ii) relações sociais, e (iii) sistemas de conhecimento e crença (FAIRCLOUGH, 2001). Esses três aspectos constitutivos do discurso estão ligados à visão multifuncional da linguagem proposta pela Lingüística Sistêmica Funcional (LSF), a teoria linguística de base adotada por quase todos as/os analistas críticas/os do discurso. Segundo Fairclough, a LSF é bastante adequada para a ACD por estar “profundamente interessada na relação entre linguagem e outros elementos e aspectos da vida social, e [por] sua abordagem à análise linguística de textos [ser] sempre orientada para o caráter social dos textos” (FAIRCLOUGH, 2003a, p. 5). Quanto à relação entre linguagem e gênero social, como as pesquisas nessa área focalizam o modo como a linguagem intermedeia,
mantém ou muda práticas e identidades sociais, tanto a ACD quanto a LSF constituem suportes teóricos e metodológicos bastante apropriados para investigar, por exemplo, através de textos midiáticos sobre o corpo, o aspecto semiótico das práticas sociais voltadas para a disciplina e o controle do corpo na modernidade tardia, assim como as estruturas sociais mais amplas que definem o potencial de significados que pode ser construído em eventos sociais específicos (ou, numa veia lingüística, nos textos) que constituem e representam o corpo e as identidades de gênero na modernidade tardia.

Para tanto, esse artigo está organizado nas seguintes seções: 2) Identidades, na qual trago aportes dos campos da antropologia, sociologia e estudos do discurso para pensar a centralidade atual do conceito de identidade para o campo das ciências sociais, suas relações com processos discursivos simbólicos e com a formação e alteração de identidades de gênero na pós modernidade; 3) Análise crítica do discurso, na qual descrevo a abordagem discursiva que norteia as interpretações textuais realizadas nesse artigo; 4) Linguística sistêmico funcional, na qual introduzo a teoria linguística de base que fornece suporte teórico e metodológico para a linha de análise de discurso aqui adotada; 5) Linguagem e gênero nas perspectivas da ACD e da LSF, na qual ilustro como textos midiáticos podem ser analisados a partir dos aportes teóricos e metodológicos apresentados nas seções anteriores, interpretando- os como artefatos culturais historicamente situados, que refletem e constroem práticas e estruturas sociais mais amplas.

Para ler mais: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44502009000300013&script=sci_arttext

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